As condições de trabalho e a saúde dos indivíduos estão intimamente ligados, de forma que as particularidades de cada atividade profissional podem interferir na qualidade de vida dos indivíduos e, até mesmo, contribuir para o desenvolvimento de doenças. Entre os trabalhadores que, muitas vezes, encontram condições desafiadoras de trabalho, estão os feirantes. Faça chuva ou faça sol, eles estão sempre com a barraquinha repleta de produtos e promoções desde muito cedo. O cotidiano corrido das cidades, além das dinâmicas estressantes de trabalho, fazem parte do dia a dia desses indivíduos e podem resultar em danos à saúde a longo prazo.
Pensando nessa relação entre condições de trabalho e saúde, a pesquisadora e enfermeira Polyana Leal desenvolveu a pesquisa “Risco cardiovascular em trabalhadores informais feirantes”, no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Uesb. A pesquisa buscou avaliar as condições sociodemográficas em um mercado municipal de Guanambi (BA).
Por meio do estudo, foi possível observar um alto risco cardiovascular em trabalhadores informais feirantes, principalmente entre os homens com idade maior ou igual a 50 anos, de baixo nível de escolaridade, com renda mensal inferior a um salário mínimo, medidas antropométricas (índices usados para mensurar tamanho, forma e composição do corpo humano) inadequadas e altos níveis de estresse no trabalho.
Segundo a pesquisadora, os dados da pesquisa servem como ponto de partida para traçar estratégias de promoção de saúde e prevenção de doenças com foco nessa parcela da população. “[O estudo] fornece auxílio para trabalhar em medidas de promoção e prevenção junto a esses trabalhadores, buscando intervir antes que o processo de saúde-doença seja instalado”. Além disso, ela chama atenção para a necessidade de estabelecer um olhar mais atento para esses trabalhadores, pelo fato de não serem amparados pela Previdência Social.
Como aconteceu o estudo – A pesquisa foi realizada com apoio de uma equipe de voluntários do curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e o levantamento contou com uma coleta de dados, junto aos feirantes, a respeito da qualidade de vida desses indivíduos. No questionário, eram considerados fatores como acidentes de trabalho, situação vacinal, nível de estresse na atividade laboral, doenças ou comorbidades.
Além disso, eram levadas em consideração características sociais e demográficas envolvendo a atividade profissional desses indivíduos. A equipe realizou também exames laboratoriais nos trabalhadores para compreender como se encontrava a saúde deles. Com os dados em mãos, foi realizado um cálculo a partir do Escore de Framingham, método que avalia o risco de desenvolver uma doença cardiovascular na próxima década da vida de um indivíduo com mais de 20 anos de idade.
Diante dos resultados, Leal lembra ainda que sua pesquisa abriu portas para que esses indivíduos passassem a repensar seus cuidados e adotar novos comportamentos, auxiliando nas decisões a respeito da própria saúde. “Nos deparamos com trabalhadores que descobriram, por meio da pesquisa, que são portadores de diabetes, que são portadores de hipertensão, que tem um risco cardiovascular alto e, a partir do projeto, conseguiram mudar o seu estilo de vida, ainda que não seja fácil essa mudança”, declara a pesquisadora.