Por Jerbson Moraes
A demora com a qual Bolsonaro mudou sua postura mostra o quanto o episódio desnorteou sua campanha. A guerra entre as alas do bolsonarismo nas redes sociais é apenas um aperitivo. Se a grosseria inominável de Jefferson com Cármen Lúcia já havia sido grave, os tiros de fuzil e as granadas lançadas contra policiais federais que foram cumprir a ordem de sua prisão têm o potencial de se transformarem na antifacada de 2022. Administrado com competência durante um mês, em 2018, o ataque a Bolsonaro foi decisivo para a vantagem colocada pelo presidente sobre Fernando Haddad no primeiro turno que se mostrou irreversível no segundo.
O tempo mais curto até o segundo turno deste ano favorece a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tem potencial até para tirar votos de Bolsonaro. E não apenas do presidente-candidato. Até Haddad ganha uma chance de reverter sua desvantagem. Não apenas porque seu adversário, Tarcísio de Freitas, que lidera a disputa, cometeu o mesmo erro de Bolsonaro mas porque, em campanhas eleitorais paulistas, a integridade da força policial é cláusula pétrea.
E, finalmente, some-se aí a dobradinha escancarada feita por Bolsonaro, no último debate do primeiro turno, com Padre Kelmon, que era vice de Roberto Jefferson e assumiu quando decretada sua inelegibilidade. Se a dobradinha foi importante para tirar Lula do prumo no debate, a presença de Kelmon na mediação da rendição de Jefferson carimba a condição do PTB como “laranja” do bolsonarismo.
Lula foi sereno na condenação do episódio, vinculando-o às agressões sofridas por Marina Silva durante sua viagem a Minas Gerais e colocando ambas no mesmo saco das agressões surgidas na política brasileira sob inspiração bolsonarista: “A gente nunca viu uma aberração dessas, uma ofensa, uma cretinice como a que esse cidadão que é meu adversário estabeleceu no país. Ele conseguiu criar uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio e mentirosa”.
Jerbson Moraes é advogado, vereador, e presidente da Câmara de Ilhéus.
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