Artigo do Jornalista Raul Monteiro.
Não é na direção da Bahia que a troca do vice-governador João Leão (PP) pelo filho, o deputado federal Cacá, como postulante ao Senado na chapa do candidato a governador ACM Neto (União Brasil) deve ser perscrutada. Ela pode ser melhor examinada olhando-se para Brasília, onde a inserção qualificada do parlamentar do PP como legítimo representante do Centrão abre um leque de perspectivas para Neto que a presença na chapa de seu pai, a despeito da excelente relação que Leão sempre manteve com os caciques nacionais do partido, não permitia vislumbrar.
Com efeito, a mudança decorreu essencialmente de uma emergência e não de uma nova estratégia. Depois de um esforço desmedido de campanha para a idade e uma saúde que já vinha sinalizando há tempos a necessidade de cuidados, o vice-governador concluiu que o momento era de rever os planos para uma investida eleitoral de menor envergadura e exigência física, como a da disputa à Câmara dos Deputados, o que impôs sua substituição. Para não criar um problema com que não era justo que o cabeça da chapa arcasse, ele agiu rápido e peitou no PP baiano a escolha do filho.
Certamente, pensou primeiro em resolver o problema logo em casa, para evitar uma eventual sangria decorrente da abertura de um processo de escolha interno no PP a esta altura da campanha, mas acabou criando uma situação para Neto melhor do que o esperado. Cacá não é só o filho amigo do candidato a governador do União Brasil, de cuja intimidade política sempre privou, o que permitia que com ele já viesse conjecturando sobre uma aliança para a sucessão estadual, ocupando exatamente a posição que acaba de assumir, desde a época em que o PP integrava a base do governo Rui Costa (PT).
Tampouco a substituição significaria apenas uma demonstração cabal do vice-governador na vitória de Neto, dada a convicção de que o filho já estava reeleito como deputado. No Congresso, Cacá é visto como o ‘xodó’ do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL), e do senador Ciro Nogueira (PI), que pilotam o PP, partido mais influente no governo de Jair Bolsonaro (PL), ao qual se atribui a governabilidade que até o acordo com a legenda – é público e notório – esteve sob risco. Com os dois, aliás, o deputado baiano tratou de se consultar antes de atender ao apelo de Leão para concorrer em seu lugar.
E foi incentivado por ambos para engajar-se na campanha do candidato de oposição ao governo do PT. Daí porque não é difícil prever que Cacá deve inevitavelmente atuar também como um articulador nacional de Neto, usando a expressiva força nacional de seu partido para amaciar a relação do candidato do União Brasil com Bolsonaro, de quem, por louváveis questões de convicção política pessoal, e também eleitorais, o ex-prefeito tem buscado manter-se distante. No novo cenário, quem não devem perder por esperar são o candidato do PL ao governo, João Roma, e, especialmente, sua companheira ao Senado, agora adversária direta de Cacá, a “Dra. Cloroquina”.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.