A última edição do IDF Diabetes Atlas, da Federação Internacional de Diabetes (IDF), divulgada no fim do ano passado, apontou que 15,7 milhões de brasileiros viviam com diabetes em 2021, um crescimento de 3,3 milhões em 10 anos, quando o país tinha 12,4 milhões. Na ocasião, a IDF também projetou que, até 2030, o Brasil deve ter 19,2 milhões de pessoas com diabetes, número que sobe para 23,2 milhões em 2045.
No mês marcado pelo Dia Mundial do Combate ao Diabetes (14 de novembro), dados do Ministério da Saúde reforçam a importância da prevenção das complicações desta doença. De janeiro a agosto deste ano, foram registradas 6.662 amputações de membros inferiores, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), em decorrência de diabetes – uma média de 54 casos por dia. No mesmo período de 2021, o número foi um pouco menor – 6.226.
Pessoas com diabetes apresentam potencial para o surgimento de úlceras nos pés, uma das complicações mais comuns e que podem levar à amputação de um membro ou parte dele. Estima-se que 25% dos pacientes com diabetes desenvolverão pelo menos uma úlcera do pé durante a vida.
“A diabetes afeta a circulação e a inervação – há uma perda da sensibilidade protetora da região do tornozelo e pé. O pé diabético é uma das complicações mais comuns de quem tem a doença e é a principal causa de amputações no Brasil, depois dos acidentes”, ressalta o presidente da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé (ABTPé), Dr. Luiz Carlos Ribeiro Lara.
Tipos de lesões
O presidente da ABTPé explica que existem vários tipos de lesões que acometem o pé diabético, causados pela perda da sensibilidade e a diminuição da circulação sanguínea. Algumas são:
Neuropatia diabética: Perda da função dos nervos do pé, principalmente da sensibilidade dolorosa e tátil, dificultando a percepção do paciente em notar lesões ou contusões. Sem a sensibilidade, as possíveis lesões podem evoluir rapidamente e formar bolhas e feridas abertas (úlceras), possibilitando assim a entrada de microorganismos e causar uma infecção no pé.
Úlceras diabéticas: Feridas abertas ocasionadas por aumento da pressão local ou por ferimento (corte) na pele. Normalmente, mas não obrigatoriamente, relacionadas com a perda da sensibilidade dolorosa do pé. Em casos graves, é necessária a cirurgia para limpeza e desbridamento das lesões mais profundas ou até mesmo a amputação de dedos ou parte do pé para sanar a infecção.
Infecção: O paciente diabético com infecção grave apresenta mal-estar geral, febre e aumento dos níveis de açúcar no sangue. Normalmente, nota-se abcesso, secreção purulenta, mau cheiro, área inchada e avermelhada, as vezes com áreas de necrose de tecidos. Esta situação é grave porque pode ser necessária a amputação para resolução do problema.
Artropatia de Charcot: São lesões ósseas. O paciente com diabetes também perde a sensibilidade para fraturas, deslocamentos ou microtraumas ocorridos nos ossos do pé e tornozelo, o que exige um tratamento diferenciado. Dependendo da gravidade, o tratamento pode ser imobilização por gesso, órtese ou até mesmo cirurgia reconstrutiva.
Cuidados
Dr. Lara ressalta que pacientes com diabetes devem atentar-se à algumas recomendações. “Não deve andar descalço, especialmente fora de casa. O uso de calçados especiais para diabéticos – fechados, sem costura interna, com a parte da frente larga e alta e que tenham palmilhas confortáveis – são recomendados sempre que possível. Além disso, é recomendado sempre usar meias, de preferência brancas, que facilitam a identificação mais rápida se tiver algum machucado no pé; de algodão, que irritam menos a pele, com costura pouco volumosa e sem elástico, para não comprometer a circulação”, fala.
O especialista orienta, ainda, examinar os pés pelo menos uma vez ao dia, tanto à procura de calos e úlceras, quanto para verificar micoses e rachaduras. “Também procure manter os pés hidratados para evitar rachaduras cutâneas e infecções secundárias e não tente retirar calos, limpar úlceras ou cortar as unhas sozinho”, conclui.