Por Julio Gomes
Ninguém faz greve porque gosta. Fazer greve dá trabalho, gasta dinheiro, cria tensão entre chefes e subordinados, até mesmo entre os próprios trabalhadores. Além disso, acumula o serviço e, para aqueles que recebem mediante produtividade, torna-se um fator de perda de dinheiro.
Entretanto, quando uma categoria entra em greve, seus membros têm, pelo menos, a obrigação moral de aderir, pois além de ter sido deliberada pela maioria em assembleia, os ganhos advindos do movimento grevista serão usufruídos por toda a categoria, indistintamente, pelo que não é justo “furar” uma greve para, posteriormente, beneficiar-se de suas conquistas imerecidamente. As greves, como se vê, têm sua própria ética e sua própria dinâmica. Convém respeitá-las.
Pois bem, esperei a greve dos servidores e professores públicos municipais acabar para escrever este artigo. Respeitei todo o período de greve, cumprindo rigorosamente a deliberação de abstermo-nos de trabalhar, e não gostaria que o presente artigo fosse interpretado como um desincentivo ao justo movimento grevista, que reivindicava junto ao Executivo municipal a reposição das perdas salariais do último período.
Mas é necessário tecer alguns comentários e, se possível, chegar a algumas conclusões.
Primeiro, devemos atacar a ilusão de que os serviços serão repostos. Em regra, não serão. É impossível.
As consultas médicas não realizadas, as roçagens não feitas, os serviços burocráticos não executados, os remédios não despachados, os processos administrativos que não foram protocolados ou encaminhados, não serão feitos retroativamente e, salvo exceções, muitos desses serviços não serão feitos jamais. O que ocorreu foi a perda de dois meses de trabalho, de serviços e de progresso. Dois meses de puro e simples atraso de vida para a população.
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