Por que algumas espécies de animais estão mais sujeitas à extinção, enquanto outras são capazes de se adaptar com mais eficácia? Esta foi a pergunta que norteou Deborah Faria, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), que em parceria com Matthew Betts, da Universidade do Oregon, nos EUA, e outros 40 pesquisadores, desenvolveram um estudo para identificar como habitats fragmentados pela ação humana podem ter impacto na capacidade dos animais de sobreviverem às mudanças ambientais. Além de Deborah, outros cinco pesquisadores brasileiros fazem parte da equipe, vinculados a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade Federal de Lavras (Ufla) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
O artigo é fruto de uma cooperação internacional (BioFrag), que se trata de um banco de dados feito a partir de estudos no mundo todo, abordando questões ligadas a perda da floresta e sua fragmentação, lançado em 2012 por pesquisadores da Imperial College de Londres. A degradação de ambientes naturais prejudica a fauna local, entretanto a resposta para esta perda de espaço pode variar de espécie para espécie. “Existem espécies que lidam bem com esta nova situação, conseguindo encontrar alimento e abrigo em cidades e áreas de agricultura, já outras são bem vulneráveis, sendo negativamente afetadas quando a paisagem é fragmentada”, explicou Deborah.
Diante desta realidade, surge a questão: o que determina que uma espécie seja vulnerável ou favorecida pela fragmentação? No artigo em questão, foi testada a hipótese de que algumas espécies são mais adaptáveis porque em um determinado momento já tiveram contato com situações como incêndios, desmatamento, glaciação e furacões que a tornaram mais resistentes em relação às outras espécies presentes em habitats que não tiveram contato com tais distúrbios. Na amostragem, foram utilizados dados de 4489 espécies animais.
Algumas conclusões do trabalho já trouxeram indicadores que exigem adotar medidas ecológicas. “O número de espécies sensíveis aumentou seis vezes em direção ao Equador, ou seja, em latitudes mais baixas. Portanto, as ações para evitar a fragmentação do habitat, como a formação de bordas, são particularmente importantes nas florestas tropicais”, destacou. De acordo com a pesquisadora, a ideia não é nova, mas testá-la foi algo precursor, ainda mais levando em consideração a situação global relacionada a mudanças climáticas. “A ideia que foi testada tem a ver com o que chamamos de ‘filtro de extinção’, ou seja, se as espécies que hoje resistem e se beneficiam das modificações naturais o fazem é porque foram ‘filtradas’ ao longo de sua história evolutiva, enquanto outras são mais sensíveis porque nunca tiveram que enfrentar tais mudanças ao longo da sua evolução, mas estão tendo que fazê-lo agora”.
O co-autor do estudo, José Morante-Filho (Uefs), acredita que a pesquisa revelou que espécies evoluídas em regiões expostas a eventos crônicos de perturbação como incêndios, desmatamento, glaciação e furacões estão mais tolerantes e até são favorecidas em situações de fragmentação do seu habitat atual quando comparadas a espécies cujo passado evolutivo ocorreu em regiões de clima mais estável e com poucos distúrbios”.
A pesquisa também aponta que as florestas tropicais, que guardam a maior parte da biodiversidade no planeta, devido ao seu estado “mais intocável”, são, atualmente, as mais vulneráveis quando o assunto é extinção de animais. “Neste artigo, nós apresentamos uma importante contribuição para entender o que poderia explicar a variação da resposta das espécies de animais a um dos processos mais perversos e generalizados ligados a ação humana: a separação física dos habitats naturais que restaram. Hoje, podemos afirmar que o nível de vulnerabilidade das espécies a este processo antrópico é parcialmente explicado pelo contexto no qual cada espécie evoluiu”, apontou.
Dessa forma, Deborah faz um alerta à população sobre a importância de preservar a natureza: “O trabalho reitera a relevância dos ambientes tropicais, como as nossas florestas Amazônica e Atlântica, por exemplo, em abrigar espécies vulneráveis a fragmentação e a nossa responsabilidade de evitar esta erosão biológica em escala planetária”. Além disso, ela deixa claro que pretende dar continuidade no estudo junto ao BioFraga. “Este é o segundo artigo de grande impacto produzido pelo grupo, mas a ideia é que outras perguntas e mais bases de dados façam parte de análises futuras”, concluiu.
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