Por Ângelo Martins
Em meados de 2017, em entrevista no programa do jornalista Pedro Bial, na Rede Globo, a estrela do cinema brasileiro e personalidade politicamente engajada à esquerda, Wagner Moura surpreendeu ao fazer uma autocrítica da esquerda.
Wagner Moura, sentenciou “Na esquerda, o que tem de ruim é o patrulhamento ideológico, os artistas não deveriam ser cobrados para dar opinião”.
A expressão patrulhamento ideológico foi cunhada pelo cineasta Cacá Diegues, em 1978, designando uma organização informal de pessoas unidas por laços ideológicos ou religiosos que tem por objetivo impor seus ideais a outro grupo de pessoas, munindo-se de discursos, protestos e reivindicações.
Pois bem, dias atrás, ao insinuar em um dos seus posts que simpatizava com o candidato Jair Bolsonaro, a pop star carioca Anitta viu seu comentário transformar-se num problema.
Anitta tentou como pode se esquivar de se posicionar politicamente, até que foi cobrada publicamente por Daniela Mercury, a novíssima líder da militância política do Brasil.
Colocada contra a parede, Anitta acusou o golpe dado por Daniela, e desconsertadamente, foi constrangida a expor sua preferência política, abrindo mão assim de um direito que lhe é constitucionalmente assegurado.
Não bastasse o pouco espírito democrático, ínsito a patrulhamento de que sofreu por parte de Daniela Mercury, Anitta achou pouco, e resolveu passar o constrangimento adiante. Intimou (leia-se, constrangeu) Ivete Sangalo e Cláudia Leitte a também se posicionarem contra o candidato Jair Bolsonaro.
A situação descrita não se resume a artistas como Daniela Mercury e Anitta, o grupo do Patrulhamento Ideológico formado pelos artistas brasileiros, tem como prócere ninguém menos que Caetano Veloso, funcionando como uma espécie de ”Farol de Alexandria” da classe.
Triste ver a classe artística, pregar liberdade de expressão e constranger outrem a aderir a suas ideias. Triste ver, principalmente, a tardia indignação destes artistas, contra um candidato, que tanto expressa a revolta popular contra o estado de coisas atuais.
Onde estava Daniela Mercury, Caetano, Gilberto Gil na época do mensalão… na época do Petrolão? Onde estavam quando vazaram os grampos de Lula e Dilma, com expressões homofóbicas, com expressões misóginas.
Onde estava Caetano enquanto José Dirceu enriquecia e abastecia campanhas petistas pelo Brasil?
Onde estava Daniela enquanto o dinheiro do povo era desviado pra construir o Estádio de Futebol?
Como defender liberdade e tolher, constranger e reprimir quem pensa diferente? Isso é democrático?
O fato é que parcela de nossa classe artística ajuda na radicalização. Num jogo agressivo e baixo que não interessa ao país. Coisa feia hein, Caetano?
Desculpe Caetano, desculpe Daniela… mas no meu voto, mandou eu.
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