A secular festa da Puxada do Mastro de São Sebastião, considerada um dos mais importantes eventos do calendário turístico de Ilhéus, acontece em Olivença, de 11 a 14 deste mês. A realização é da prefeitura, através das secretarias de Turismo e Esporte (Setur), Cultura (Secult) e Saúde (Sesau), e Associação dos Machadeiros, com o apoio das polícias Civil, Militar e Rodoviária da Bahia. Além dos festejos indígenas e religiosos, a parte profana do evento conta com a participação das bandas locais que vão fazer o agito de quinta-feira a domingo.
No domingo (14), o ponto alto da festa, a programação inicia às 5 horas da manhã com alvorada. Na sequência são realizadas diversas celebrações em frente à Igreja Nossa Senhora da Escada, na Praça Cláudio Magalhães, com ritual indígena e a bênção dos machadeiros (religioso). Após o oferecimento de feijoada começa a caminhada de cerca de cinco quilômetros até a mata de Ipanema. Sempre com muitas orações, agradecimentos e rituais em homenagem aos ancestrais os machadeiros fazem a derrubada da árvore por volta das 10 horas da manhã.
De acordo Erlon Costa, mestre em Desenvolvimento Sustentável em Terras Indígenas (Universidade de Brasília), especialista em psicologia social pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), historiador e etnógrafo da puxada do mastro há 18 anos, a festa tem origem no século XVI quando padres jesuítas estabelecidos na região em tentativa de catequização dos indígenas se apropriam de manifestação cultural nativa, a corrida de tora para disseminar elementos cristão entre os indígenas aldeados.
“O processo de valorização desta história é importante para a cidade. Estamos trabalhando e apoiando o evento, resgatando a tradição, por entendermos que a riqueza desta história precisa ser preservada”, assegura o secretário de Turismo, Roberto Lobão.
Erlon Costa conta que sua história está intimamente relacionada a permanecia e resistência dos indígenas Tupinambá de Olivença, que se utilizaram da festa para a manutenção de traços culturais fundamentais na luta afirmação enquanto povo indígena e demarcação de seu território. “Ainda nos dias que antecedem a puxada do mastro, a comunidade de Olivença prepara-se para os festejos ornamentando o espaço, realizando apresentações culturais a exemplo do Bloco dos Mascarados, Terno das Camponesas e Boi Estrela. Manifestações essas que ao som da zabumba e do sino do badalo fornecem o tom da festa e preservam os resquícios da língua Tupi antigo através do “Ajuê dão, ajuê dão, dão” única música cantada durante o festejo intercalada com trovas e rimas”.
O historiador destaca também que “no local onde a arvore é derrubada, denominado de Cepa, existe um misto de fé, devoção e sacralidade, onde indígenas reafirmam seus trocos familiares, refletem sobre a comunidade e repassam a tradição para os mais novos através do mastaréu; um mastro específico para as crianças que realizam ritual da mesma maneira que os adultos, desgalhando, descascando e puxando o tronco até chegar na primeira praia”.
Herlon Costa discorre ainda o histórico da festa: “Após passado o dia da puxada propriamente dita o mastro é substituído na praça, o tronco novo é retalhado e o antigo guardado junto com o mastaréu para ser queimado nos festejos juninos, muitas simpatias e tradições são realizadas no momento em que o mastro é erguido buscando proteção para toda a comunidade”.
Deixe seu comentário