Porto Sul não é alternativa, é complemento


Por Carmelita Ângela 

 Professora Carmelita
Professora Carmelita

Há um aspecto perverso em certas discussões travadas ao sabor das emoções: o achismo. Achar alguma coisa, sem o correspondente aprofundamento da questão em pauta acaba conduzindo o debate a uma lastimável confusão.

Alguns desses achistas agem de caso pensado, com a intenção mesma de embotar a discussão. Outros, por preguiça de buscar outras verdades contidas no debate. Outros, ainda, por intimidação. Outros, enfim, por pura ignorância. O resultado final disso tudo é muito ruim.

É justamente esse o problema que cerca a maior parte das contestações formuladas contra a finalização do projeto do Porto Sul, fruto de inúmeras discussões, mudanças estruturais altamente importantes, e, sobretudo, muito estudo.

O fato é que desde o ano de 2009 nunca se discutiu tanto um projeto, como foi feito com o do Porto Sul, uma obra da mais alta importância, não apenas para Ilhéus, como, ainda, para o Sul baiano, e para o estado como um todo.

Obra orçada na casa dos R$2,2 bilhões de dólares, o Porto Sul é o ponto final, mas, da mesma forma, ponto inicial, da chamada Ferrovia Oeste-Leste (que, também poderia ser chamada de Leste-Oeste, caso alguém queira).

A ferrovia, ainda em construção, vai servir de escoamento ao minério de ferro, aos grãos e aos fertilizantes produzidos ao longo do estado da Bahia, a partir da região conhecida hoje como Matopiba, cuja produção de grãos cresce a cada ano.

Retornando, as composições irão de forma crescente transportar mercadorias que chegam ao Porto Sul, atendendo demandas que certamente serão construídas ao longo da ferrovia, nos próximos anos.

O último ato para a finalização do Porto Sul foi a publicação, em novembro do ano passado, da Autorização para Supressão de Vegetação (ASV), completando as licenças e autorizações para a devida implantação do porto.

Como fruto do debate, ao longo do tempo, o local foi transferido de uma região conhecida como Ponta da Tulha para cinco quilômetros mais ao sul. O píer de atração vai ser construído a 3,5km da praia para diminuir os danos ao ecossistema marinho. A área total foi reduzida a menos da metade.

Participaram das audiências os diversos segmentos interessados, como os representantes do governo federal, do governo estadual, dos governos municipais, da comunidade, dos executores da obra, do Ministério Público e do Ibama. Tudo absolutamente transparente.

Ilhéus e a região Sul da Bahia têm no cacau uma das mais fortes expressões econômicas, também traço cultural indelével a toda a região grapiúna. A cacuicultura constitui-se, por assim dizer, na espinha dorsal da economia e da cultura regional.

O cacau forjou, ao longo do tempo, um conjunto fortíssimo com a geografia da região e as figuras, locais e situações imortalizadas pelo escritor Jorge Amado, além de poetas e outros escritores, resultando na crescente vocação regional para o turismo cultural.

As reservas de mata atlântica, duramente preservadas – inclusive, pelas profundas mudanças no projeto inicial do Porto Sul – são atrativos naturais do Sul da Bahia, fortalecendo enormemente o ecoturismo.

A agricultura familiar, enfim, empreendida com imenso respeito a esse ambiente natural, e produzindo a subsistência dos povos da região, termina por compor um todo econômico, mas, também, social, a configurar um ambiente produtivo singular, em termos do próprio país.

Importante assinalar que o Porto Sul não surge como alternativa a toda essa realidade já existente. Mas, sim, como complemento, a favorecer – e, também, ser favorecido – pela agricultura familiar, pelo ecoturismo, pelo turismo cultural, pela cacauicultura.

É hora, creio, de todos nós, verdadeiramente comprometidos com Ilhéus e o Sul da Bahia, formarmos uma só corrente em favor do que já se mostra como definitivamente resolvido. Mas, que precisa de todos para que efetivamente dê certo.

*A autora do artigo, Carmelita Ângela é presidente do Partido dos Trabalhadores em Ilhéus