Por Gustavo Kruschewsky
É a idade da cidade de Ilhéus que completará quatrocentos e oitenta e um anos nesse domingo 28 de junho de 2015. A população já festejou muito vários aniversários de Ilhéus nos tempos idos, época de grande produção de cacau. Àquela época, de certo modo, a região cacaueira sustentou praticamente quase toda a Bahia e quiçá parte do Brasil através de uma gigantesca e contínua colheita e exportação desse fruto de ouro. Será que por causa dessa histórica divisão federativa esdrúxula e injusta em que a maior parte do quinhão dos impostos vai para a União e o mínimo para os cofres Municipais, a cidade de Ilhéus fora prejudicada na implantação sustentável da sua infraestrutura desde aqueles tempos que o cacau valia ouro? A verdade é que essa festejada produção do cacau e os trabalhos literários, que se reportam àquele tempo, de escritores da cepa de Jorge Amado e Adonias Filho, tiveram repercussão positiva também na visão de outros povos, tanto na arte quanto na economia. Infelizmente, uma doença devastadora denominada vassoura de bruxa foi implantada nas roças de cacau e se alastrou, fulminando com a produção em toda a sua extensão. Em relação ainda à infestação da vassoura de bruxa, fala-se muito em “crime ambiental”. Sugiro que o leitor assista a um filme de Dílson Araújo dos Anjos em DVD intitulado O NÓ – ato humano deliberado – que faz “o registro histórico da “introdução criminosa” da doença vassoura de bruxa nas plantações de cacau do Sul da Bahia”. Comprei esse DVD no Sindicato rural em Ilhéus. Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.
A cidade de Ilhéus geograficamente é banhada pelo mar, fenômeno natural que atrai muitas pessoas de fora que vêm veranear. Tem rios abundantes, alguns infelizmente poluídos, notadamente sem intervenção dos “poderes públicos” e por falta de educação de muitas pessoas que, por efeito, terminam atingindo algumas praias da zona norte e sul da cidade. Tem também muitas terras – na sua maioria localizadas em regiões distritais – abandonadas pela devassa do cacau que lembra o final do filme intitulado E O VENTO LEVOU.
Portanto, sem muitas delongas, apesar da riqueza atribuída àquela época à enorme produção de cacau, não se pode dizer que a cidade fora tão favorecida – onde se deveria lutar desde aqueles tempos com ideologia firme fazendo pressão para criação de normas legais a fim de cobrar taxas e impostos significativos aos fazendeiros de cacau, e que o montante maior da verba fosse revertido para os cofres municipais onde pertencia a região produtora de cacau, rompendo com essa “estrutura” maldita de parte bem maior de recursos ser revertida para a união. Todo esse propósito aludido teria a finalidade de criar uma estrutura favorável e sustentável na cidade com ideias brilhantes tendo em vistas, por exemplos, ao futuro da mobilidade urbana, à implantação de infraestrutura de saneamento básico, à melhoria gradativa da saúde e da educação – inclusive nos distritos – ao sistema de transporte urbano e rural, à segurança pública municipal e à construção e conservação de estradas incluindo aquelas que conduzem a todos os distritos Ilheenses.
Portanto, percebe-se que não houve uma parceria inteligente entre os governos federais e os Intendentes e alcaides que dirigiram os variados governos – executivos e legislativos – do Município de Ilhéus, no sentido de através de normas legais, cobrar mais verbas das fontes das exportações de cacau durante esse tempo todo que passou e aplicar inteligentemente numa infraestrutura sustentável no Município de Ilhéus. Hoje teríamos uma cidade com uma pujante estrutura sentindo bem menos crises ocasionais. Mas, a história dá conta que muitos “dos poderosos fazendeiros” cumulavam a função de produtores de cacau com funções e cargos políticos que os impediam de agir, com algumas exceções, em prol da coletividade . O capitalismo é assim no Brasil, não se olha o coletivo por causa do “dano” que causará à pessoa individualmente ou ao seu grupo. É o que acontece hoje com a maioria dos governos – executivos e legislativos – que só olha para os seus interesses individuais. É preciso uma pressão forte dos bem intencionados a fim de virar essa horrenda página em todo o território nacional.
No registro desses 481 (quatrocentos e oitenta e um) anos da cidade, infelizmente, o povo Ilheense está insatisfeito para gritar “VIVA ILHÉUS”. Esse governo atual e passageiro, por outro lado “bastante diligente”, para não deixar em branco o dia do aniversário da cidade, além de alguns eventos que serão realizados apenas para adicionar mais um registro de fatos na programação – a exemplo de corrida rústica pela cidade – escolheu algumas personalidades a fim de homenagear com a Comenda do Mérito de São Jorge dos Ilhéus e como não poderia deixar de ser – posto que isso é cultura de priscas eras – ofertar à turma o famoso CIRCO SEM O PÃO – convidando a talentosa e charmosa cantora Daniela Mercury para encerrar a programação dos festejos do Dia da Cidade de Ilhéus. Diga-se de passagem, que é muito comum historicamente a muitos legislativos (Câmaras de Vereadores) também apresentarem indicações, projetos de resolução concedendo títulos de cidadão até para quem merece, esquecendo-se de sua principal função que é de legislar, fiscalizar a execução do orçamento e as ações dos prefeitos, evitando que transforme seus mandatos numa ação entre amigos ou em oportunidade para locupletar-se.
A verdade é que nada desses “festejos” do aniversário de 481 anos de Ilhéus fará a população esquecer os problemas que a cidade e seu povo estão amargando. A partir da próxima segunda feira, 29 de junho do andante, tudo continuará como Dantes no quartel de Abrantes, ou seja: funcionário público Ilheense sem receber a reposição salarial; o professor sem receber o piso nacional; os distritos completamente abandonados pelas autoridades públicas, lembrando que a construção da segunda ponte Ilhéus – Pontal fora abandonada de forma danosa deixando, além de outras mazelas, ruas da Nova Brasília, no Bairro do Pontal, completamente destruídas. Acresce ainda que as estradas de acessos aos distritos de Ilhéus estão completamente danificadas; a saúde pública vilipendiada e tantos outros desapontamentos causados pelos governos – legislativos e executivos – que o judiciário e o povo Ilheense precisam tomar providências de forma emergente. De qualquer sorte PARABÉNS ILHÉUS PELO SEU ANIVERSÁRIO e por suportar o vilipêndio, principalmente oriundo dessas quase duas últimas décadas.
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