Por Julio Gomes
Foi carnaval ou festa de largo? Não sei dizer, mas, quem gosta de carnaval – assim como eu gosto – não tem dúvida de que tivemos o menor carnaval de todos os tempos, no tamanho do circuito e, talvez, na participação do povo.
Parece que neste ano o governo se esmerou em apequenar alguns aspectos da festa popular: não contratou nenhum trio elétrico; não colocou nenhum tipo de decoração carnavalesca; não armou palanque oficial, quiçá para evitar constrangimentos; e reduziu o espaço físico do evento público à menor área ocupada de toda a sua história: iniciava-se junto à catedral e terminava primeira esquina mais próxima da Soares Lopes, concentrando ali barracas, palco, vendedores e foliões.
Por outro lado, quem é folião, quem gosta de brincar, sempre dá um jeito de aproveitar o carnaval e ser feliz, seja em um bloco popular ou afro; seja próximo à banda que toca no palco ou indo ao circuito junto com as pessoas de quem gosta.
Houve também acertos, o lado positivo: um deles é o carnaval iniciar-se à tarde e terminar às 2 horas da madrugada, evitando enorme quantidade de inconvenientes, principalmente relacionados à violência. A redução da área também facilitou o trabalho da Polícia, sobretudo militar, que atuou com bom efetivo e de forma adequada, trazendo segurança, o melhor possível, para este evento que é marcado tanto pela alegria quanto pela tragédia dos assassinatos que ocorrem na frente de todos, mas que permanecem sempre anônimos porque nunca são divulgados pela grande imprensa.
Na verdade, ao aplicar a lógica de concentrar um evento popular, os gestores de nosso Município proporcionaram um carnaval menor, mas sem violência e, até onde sei – e posso estar errado, pelo que desde já aceito eventuais correções ao que afirmo – sem nenhuma morte na área em que se realizou o evento.
Este talvez tenha sido o grande acerto, o lado indiscutivelmente mais positivo do carnaval ilheense. Temos certeza de que, em Salvador e em inúmeras outras cidades da Bahia, muitas, muitas famílias sepultaram parentes que perderam a vida em meio a esta festa. E como a divulgação destas mortes violentas não é de interesse dos políticos – desde ACM neto, do DEM, até o governador Rui Costa, do PT – nem dos poderosos grupos econômicos que ganham rios de dinheiro com o carnaval, elas sempre permaneceram anônimas, silenciosas, quase inexistentes, exceto para aqueles que perderam um filho(a), um pai ou outra pessoa amada.
Temos de questionar não só aos governos, mas a nós também sobre determinados fatos: É correto o Poder Público gastar milhões contratando grandes artistas para um show de uma hora e meia? Vale a pena investir tanto em uma festa popular para termos um mar de violências, de cenas muitas vezes deprimentes, de todo o tipo de excessos? Vale a pena trazermos para nossa cidade uma grande atração e, ao fim da passagem do trio elétrico, termos o corpo de um jovem estendido no chão?
Acredito que os gestores de nosso município, ao fazer um carnaval diminuto, não pensaram em ninguém a não ser em si mesmos. Mas acabaram acertando em uma coisa: Tivemos um carnaval quase sem violência e sem mortes na Avenida. E isso é muito para quem deseja começar o ano de 2015 com vida e alegria.
*Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: [email protected]
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