PT contra PT – é o que se anuncia para o momento


Por Walmir Rosário

WALMIR-ROSÁRIO-FOTO-WALDYR-GOMES1-150x150Uma guerra fratricida sem precedentes é o que se vislumbra nos altos escalões do Partido dos Trabalhadores (PT). É a famosa luta do PT contra o PT. Mas não a que estamos acostumados a assistir, e sim a hegemonia de uma de suas correntes. Como fogo de monturo, ela foi deflagrada desde a posse de Dilma Rousseff à Presidência, porém vem se acirrando a cada dia, a cada protesto, a cada pescoço degolado.

Ficou mais evidente agora, depois dos protestos que assolam as ruas do país. De um lado, o bloco petista dos descontentes, que ainda não se conforma com essa maneira petista de governar. Afinal, não foi para isso que lutaram contra a ditadura. Saíram os militares, entraram os burgueses, como sempre acontece, o que tem causado grande descontentamento, embora não reclamem de forma clara, agem à sorrelfa. Sem falar na luta intestina pelos corredores e salas do Palácio do Planalto.

Esta última é a mais acirrada, pois age nas sombras em busca de um espaço no sol do poder. É o PT contra o PT. Disto ninguém tem dúvida. Afinal são mais de uma dezena de correntes e tendências com pensamentos filosóficos dos mais díspares. Embora algumas poucas não causem preocupações, tendo em vista a pequena capacidade de mobilização interna e externa, outra cresce e se agiganta como uma verdadeira Hidra de Lerna. E já amedronta.

A luta interna pelo poder está sendo desnudada para a sociedade a cada protesto, a cada reivindicação vinda das ruas. E não se limita a encontrar soluções para a redução dos R$ 0,20 da tarifa dos transportes urbanos, pois algumas medidas – falhas e inconsistentes – foram tomadas, a exemplo da desoneração de impostos. A verdadeira briga, a de cachorros grandes, como se diz na gíria, está nas ações políticas.

E nessa luta renhida travada entre o PT contra o PT é que estão sendo colocadas as “cascas de bananas” para a presidenta Dilma Rousseff pisar. E ela tem escorregado em todas. Qualquer aluno do terceiro semestre dos cursos de Direito ou Ciências Políticas teriam interpretado de forma diferente as ações anunciadas pela presidenta, todas em flagrante desrespeito à Constituição Federal. Um vexame.

Quem teria aconselhado a presidenta Dilma a dirigir à Nação tamanhos impropérios? Com certeza não foram os técnicos da Presidência da República – incluindo, aí seus ministérios e órgãos de assessoria –, pois possuem quadros de competência comprovada. E esses erros crassos foram sendo repetidos à exaustão, como se o Brasil não vivesse sob a égide do estado democrático de direito, obrigando ministros ir a públicos para os desconcertantes a desmentidos institucionais, do tipo: “não foi bem isso que queria dizer”.

Dilma e Lula. PT contra o PT. Com todos os desmentidos e dissimulações, fica cada vez mais evidenciado e provado os desencontros. No núcleo duro do Palácio do Planalto as discordâncias estão cada vez mais expostas. O grupo fiel a Lula acredita que ainda deve obediência ao ex-presidente e mostra o desconforto do relacionamento com a presidenta, que possui métodos bastante diferentes de governar, distribuindo broncas a torto e a direito, o que não deixa de ser uma falta de respeito com o subordinado.

Se é incompetente, o remédio mais adequado é a exoneração, o que nunca acontece. Esse comportamento evidencia que, apesar da caneta e do diário oficial à disposição, a presidenta não pode agir como queria, ou seja: com os colaboradores de sua estrita confiança. Se essas dificuldades permeiam a relação interpartidária, avaliem em relação aos partidos da base aliada, com desejos e pensamentos dos mais diversos.

As reações da presidenta Dilma Rousseff são vistas e sentidas por todos os brasileiros e mais diretamente no Planalto Central. Queixam-se os “lulistas” da falta do afago do ex-presidente, considerado líder inconteste do partido e que soube ganhar o respeito de outras lideranças e dos brasileiros pelo comportamento. Já da presidenta Dilma a reclamação é decorrente da frieza no tratamento, chegando a ser considerado desprezo, em determinadas situações. “Uma gerente”, dizem.

Mas voltando às ruas, não se pode excluir desses movimentos filiados de diversos partidos políticos, a exemplo do PCdoB, PCB, PCO, PSTU, dentre outros, e até mesmo do PT. Todos reclamam da falta de atendimento adequado pela máquina pública, que não presta os serviços na conformidade da cobrança dos tributos. E aí é que está o cerne da questão: Enquanto odos os brasileiros demonstraram entender o recado, o Governo Federal fez de conta que de que nada daquilo era com ele e que passaria incólume ao recado das ruas.

Daí que volto a insistir na guerra do PT contra o PT. Um partido com o histórico do PT pode não ter expertise em governar, mas não pode desconhecer a voz das ruas, apesar de todo o processo de aburguesamento. Se a “parte gerente” não soube auscultar as massas, é até admissível o erro de interpretação; mas a “parte líder” não entender a origem dos acontecimentos ou fazer “vistas grossas” aos protestos, não faz parte de nenhum manual.

Se Dilma é a gerente, Lula é o líder. Enquanto a primeira não correu da raia, mesmo sendo atropelada pelo “fogo amigo”, o mesmo não se pode dizer do líder, que se “fingiu de morto”, tomou um avião de saiu flanando pela África e Europa, sob o patrocínio de empresas multinacionais.

Lá fora, claro que ele não sabe de nada. Aqui, coube ao seu amigo e compadre, o deputado federal Devani Ribeiro (PT-SP) aceitou fazer um dos serviços recomendados por Lula, para denegrir o Governo Dilma, alardeando: “Quem pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir”, berrou.

Com isso, ficou com compaixão de pessoas sérias filiadas e militantes petistas, que, na base, tentam levar a sério o partido que ajudaram a construir, e que agora tem que amargar comportamentos nada republicanos como esse. Mas é o preço que aceitam pagar.

Jornalista, advogado e editor do www.ciadanoticia.com.br