O tempo de Ilhéus esperar por dignidade no transporte público já se esgotou


Por Jamesson Araújo

A empresa São Miguel, uma das responsáveis pelo transporte público em Ilhéus, enfrenta críticas após mais um caso de negligência: um ônibus pegou fogo no terminal urbano na última terça-feira (25), por falhas elétricas. O incidente reacendeu o debate sobre a precariedade do sistema, que há mais de uma década sofre com frota sucateada, falta de fiscalização e promessas não cumpridas de renovação de veículos. Agora, a pressão aumenta sobre o atual prefeito Valderico Junior para tomar medidas efetivas.

Em 2023, a prefeitura anunciou um acordo com as concessionárias (São Miguel e Viamentro) para a chegada de 30 ônibus novos. No entanto, registros do Blog Agravo mostram que, desde 2018, pelo menos quatro notícias destacaram promessas semelhantes — incluindo a entrega de 27 veículos em 2020 e mais 14 em 2023. A pergunta que fica: por que os ônibus desapareceram ou se deterioraram tão rápido?

Há indícios de desvio da frota. Em 2018, o mesmo blog flagrou um ônibus novo de Ilhéus circulando em Porto Seguro cinco dias após a entrega. A São Miguel, em particular, é alvo de desconfiança: além de não repor a frota adequadamente, mantém veículos em condições de riscos, especialmente nas linhas dos distritos.

Em 2020, a prefeitura anunciou que Transporte coletivo de Ilhéus tinha 40% da frota renovada com mais 10 novos ônibus.

Enquanto a São Miguel patina, a Viamentro — parte de um conglomerado com forte atuação no transporte baiano — tem capacidade para investir mais. Especialistas sugerem que, se as empresas não cumprirem acordos, a prefeitura deve regulamentar o transporte alternativo com vans, modelo adotado em outras cidades para suprir falhas do sistema tradicional.

A bola agora está com Valderico Junior. A população espera que ele rompa com o legado de omissão das gestões anteriores, que permitiram a degradação do transporte. Se optar por renovar os contratos sem exigir contrapartidas claras, o risco é perpetuar o caos. Se agir com rigor, pode ser o início de uma virada — desde que o Ministério Público e a Câmara Municipal façam sua parte.

O incêndio no terminal foi só mais um capítulo de uma crise crônica. A São Miguel queimou não apenas um ônibus, mas sua própria chance de continuar operando sem mudanças radicais. A solução depende de investimentos reais, fiscalização rígida e, se necessário, alternativas que quebrem o monopólio das atuais concessionárias.