Por questão de minutos, a professora Luciana Nascimento, de 38 anos, não embarcou no ônibus que se envolveu em um acidente com uma van e um caminhão bitrem que deixou 12 mortos e mais de 20 feridos na Bahia. A educadora se atrasou para chegar à rodoviária de Itabuna em razão de alguns imprevistos. Ela havia se programado para voltar para sua casa em Eunápolis no horário das 18h, mas se deparou com uma fila extensa para comprar a passagem. Na sua vez, já era tarde demais.
— Cheguei lá pouco depois das 17h30, mas só tinha um atendente e uma fila de 10 ou 12 pessoas na frente. Quando chegou na minha vez, o rapaz falou que não tinha passagem para aquele horário, que o ônibus já estava saindo, não tinha como. Nessa hora eu me desesperei — contou Luciana ao GLOBO, ainda em choque. — Eu tinha me programado para ir naquele ônibus. Foram alguns minutos que impediram realmente.
A professora havia marcado uma consulta médica na última terça-feira em Itabuna. Na véspera, após trabalhar pela manhã, pegou um ônibus de Eunápolis, onde mora há sete anos, com destino ao município baiano no qual vivem seus familiares. Dormiu na casa de sua mãe para chegar a tempo do compromisso no dia seguinte.
Luciana costuma visitar a família aos fins de semana, sempre de carro acompanhada do marido. Desta vez, por ser em dia útil, ele não pôde levá-la à cidade por motivos de trabalho. Segundo a educadora, ela conta nos dedos as situações em que viajou de ônibus até lá.
Após a consulta, a professora marcou um exame para quarta-feira de manhã. Ela retornou ao médico no mesmo dia para mostrar o resultado, antes de voltar a Eunápolis horas depois. Como sua mãe mora a poucos minutos da rodoviária, a ideia era passar antes para comprar a passagem, mas uma ida ao banco a atrasou. Prestes a sacar dinheiro, Luciana não encontrou seu cartão na carteira. Aflita e sem achá-lo, resolveu solicitar o bloqueio. Foi tempo suficiente para perder o ônibus.
— Tinha que trabalhar cedo no dia seguinte. Então, para mim esse horário de 18h estava bom, porque sabia que até umas 22h estaria em casa — disse a professora. — Minhas colegas de trabalho sabem o quanto tinha me programado para ir nesse ônibus. Também sabia que na BR tem muito acidente, não queria ir muito tarde. Quando perdi, resmunguei, reclamei.
Sem conseguir o horário esperado, Luciana comprou passagem para 23h, único ônibus disponível. Regressou à casa da mãe para aguardar o embarque. Sentada na sala, pouco depois de 21h, começou a receber várias mensagens no WhatsApp, mas não parou para olhar. Quando resolveu abrir o aplicativo, demorou a assimilar. O marido e seus filhos gêmeos, de 17 anos, sabiam que ela viajaria mais tarde. Algumas de suas amigas, ao contrário, não.
— Quando fui entender que tinha sido um acidente, a fatalidade e que era aquele ônibus, já perdi completamente a noção, me deu um desespero. Meu esposo me ligou chorando, agradecendo por eu estar bem. Não consigo explicar o que sinto. É um misto de sentimentos. Um alívio, mas ao mesmo tempo como se eu tivesse perdido alguém que estava lá, pela forma que foi, pelas pessoas que morreram — disse Luciana.
Naquela noite, Luciana não consegui dormir. Também não pegou o ônibus das 23h. Deixou para retornar no dia seguinte. Na volta, foi recebida pelo abraço da família e pelo carinho de seus alunos do 4º ano, no Colégio Anísio Teixeira. As lembranças dos momentos que antecederam a viagem ainda tiram seu sono.
— Ainda não consegui dormir, descansar. A todo momento vem aquela imagem, uma fala da minha prima, os detalhes. Você vai somando. Eu não pensei em ir naquele ônibus; eu me programei para ir nele.
Informações do Jornal O Globo.
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