Portas que se fecham, vidas ceifadas.


Por Sebastião Maciel Costa.

Na história humana há registros de que atitudes individuais que se propagam no tempo e no espaço tornam os caminhos definitivos. O agir faz parte do sentido da vida, como as consequências fazem parte do legado de todos e de cada um.

Século XXI, palco de constatação de grandes conquistas que vão do analógico ao digital, do que vale ao que não vale, do correto ao politicamente correto, do que forma ao que deforma… Para juntar as pontas de um processo em formação, todas as gerações que tiveram acesso ao conhecimento, o fizeram em espaços sistematicamente preparados para orientar, induzir, mostrar, instigar, negociar, ensinar e aprender firmando alianças e compromissos que conduzem os fios que serão tecidos entre si para dar forma ao homem do hoje, preocupados com homem do porvir.

Se o ser humano, no seu processo de formação precisa abrir trilhas que serão caminhos de vida, no meio deste caminho está a ESCOLA. Considerando que a escola é porta para o mundo o que há de se esperar de quem não tem como seguir? Lá no lendário “Alice no país das maravilhas”, em uma conversa da personagem principal com o seu gato há um diálogo: -amigo, me leva daqui, o gato pergunta para onde ela pretende ir. Enfadada, desencantada responde: – para qualquer lugar!… O gato ri e retruca: Amiga, para quem não tem onde chegar, não precisa de caminhos”. A ESCOLA É CAMINHO DE VIDA. É PATRIMÔNIO INALIENÁVEL. Se “a criança de estuda pode ser considerada um aprendiz em labor, o estudo é o “trabalhado” da criança saudável que se desafia a cada aula, a cada lição entendida, a cada chegada ao topo do compromisso assumido e correspondido. E as famílias sabem quão importante é a relação escola -professor-aluno. É ali que tudo se articula, se projeta, cria raízes que serão asas logo ali, no futuro de cada criança. Pergunte a qualquer criança se ela está feliz fora da escola. A RESPOSTA é tudo o que deve nos mover de volta à sala de aula; pergunte a um professor se ele está feliz diante da “proibição” de tecer o seu mister. A RESPOSTA por si mesma nos leva à escola aberta já.

Diante de tudo o que vivemos em 2020, encontramo-nos numa encruzilhada: Escola fechada, futuro imprevisível, descaminho à vista. Quais as justificativas para a escola está fechada? Nada pôde parar, bancos, comércio, indústria, trânsito, restaurantes, praias, avenidas, hotéis, clínicas, praças, cooper, academias… por que tornam-se espaços imprescindíveis à manutenção da vida?. O hoje diz isso, mas como será o amanhã?

Crianças em casa têm acesso à internet, a jogos, a lazer, a diversões… àquelas que não têm acesso a essas ferramentas têm o isolamento, à rotina, ao tédio, ao stress, à rua, sem rumo.

Pais esclarecidos e abastados precisam trabalhar para o sustento da família ou manutenção patrimonial, mas não foram talhados para sistematizar conhecimentos; pais educam, professores ensinam. Pais mais simples e com menos recursos, precisam trabalhar, não disponibilizam de ferramentas tecnológicas, não sabem “ensinar” porque não aprenderam a ensinar.

Ora, em resumo, os fundamentos para a manutenção da escola em pleno funcionamento precisam ser respeitados, precisam ser garantidos pelo Estado. “Toda criança tem direito à educação de qualidade…” Quem definiu que a qualidade passa pelo colapso? E o tempo não para. Nem o mundo parou; A escola também não parou, mas o processo foi abruptamente interrompido na sua essência: o estar junto, o olhar, o sentir, o agir coletivamente.

A insensatez de fechar a porta da escola sob alegação de preservar o isolamento social da criança traz um equívoco: Para um pai médico, da linha de frente da pandemia ao voltar para casa após um árduo plantão quais as garantias de que suas crianças estarão “protegidas” para uma conversa, um abraço, uma noite de sono no mesmo ambiente? E não justifica dizer que a criança não vai saber lidar com protocolos na escola. Serão os mesmos de casa. Em qualquer lugar, ela repete as ações dos adultos: Para uma mãe que precisa ir ao mercado, à farmácia, ao Banco, ao restaurante, ao voltar para casa não trouxe riscos para as acrianças? Para uma babá que tem esposo e filhos, vem trabalhar de ônibus superlotados, como garantir que as crianças de quem ela cuida, estejam protegidas?

Ou reabrem as escolas ou estaremos cometendo um crime contra a vida. Não haverá tempo para repor o prejuízo, serão gerações castradas na sua essência de formação. Que sejam reavaliados os protocolos, que sejam avaliados os fatos, que sejam tomadas providências urgentes! Que acordemos Academias de letras, Direção de escolas, conselhos de educação, clubes de serviço, maçonaria, igrejas, sociedade organizada, professores, pais de família… chega de protelar, chega de adiamentos. Se ficar em casa, pode pegar; se sair de casa, pode pegar; se não for estudar, pode pegar; se for estudar, pode pegar; se aprender e pegar, pode se defender porque aprendeu a se defender, a lutar, a crescer, a vencer. Vençamos juntos: família e escola, em nome da vida. Afinal, a quem interessa a escola fechada?

Artigo do professor Sebastião Maciel Costa.