O projeto ‘Agentes de AutoTransformação’, que tem como objetivo oferecer atenção psicoterápica, sem custos, para agentes penitenciários e seus familiares, foi lançado ontem, dia 19, durante o seminário ‘Sistema Prisional e Doenças Ocupacionais’ na sede do Ministério Público estadual, no CAB. O projeto integra o programa ‘A academia vai ao cárcere’ e é desenvolvido em parceria pela Unidade de Monitoramento da Execução da Pena (Umep), Centro de Apoio Operacional de Segurança Pública e Defesa Social (Ceosp) do MP, Universidade Salvador (Unifacs) e Secretaria de Administração Prisional do Estado da Bahia (Seap).
“Já temos diversos projetos voltados ao apenado e agora, com esse direcionamento aos agentes prisionais, visamos o objetivo de melhorar o funcionamento do sistema penal como um todo”, afirmou o coordenador do Ceosp, procurador de Justiça Geder Gomes, que abriu o evento ao lado do coordenador da Umep e idealizador do projeto, promotor de Justiça Edmundo Reis.
Como introdução ao projeto, o promotor de Justiça Edmundo Reis apresentou ao público, formado em sua maioria por professores, promotores, agentes de segurança e estudantes, o programa ‘A academia vai ao cárcere’. Criado no âmbito da Umep, o programa busca ir além das atribuições da execução penal. “Nosso trabalho é mais amplo e busca alcançar a política penitenciária como um todo, inserindo nela as questões atinentes ao detendo”, salientou o promotor, que listou entre os objetivos do programa a produção de conhecimento científico, por meio de artigos, monografias, pesquisas e outros projetos acadêmicos.
Edmundo Reis anunciou que será montada na Umep uma biblioteca que disponibilizará a produção acadêmica da Unifacs, bem como trabalhos de mesmo teor já produzidos pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). O promotor de Justiça disse ainda que o projeto já articula parceria com outras unidades de ensino.
O projeto ‘Agentes de AutoTransformação’ foi apresentado pelos psicólogos e professores da Unifacs, Rui Maia Diamantino, Diego Solci Toloy e Cintia Reis Neves. Eles explicaram que o acompanhamento clínico dos agentes penitenciários será feito no campus da Unifacs e não nas unidades prisionais. “Estar fora do ambiente de trabalho faz parte do tratamento desses profissionais”, afirmou Diego, que definiu as instalações carcerarias como “espaços adoecedores e marcados pela violência”. O professor Rui afirmou que a inclusão das famílias é necessária para que o trabalho funcione. “Nosso projeto de assistência psicológica busca tratar o agente de forma integral, e isso envolve a relação com seus parentes, que lidam diretamente com o estresse que o sistema produz sobre a família, precisando ser tratados também”. Cintia acrescentou que haverá atendimentos em grupo, mas o foco do trabalho estará nas necessidades individuais de cada agente, que serão mensuradas por meio de avaliações, que serão usadas apenas para orientar o projeto e mantidas em sigilo.
Coordenadora do programa de valorização do servidor da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP), a delegada de Polícia Civil Marjorie Veiga falou da importância da comunicação interpessoal e do uso da inteligência emocional no ambiente de trabalho prisional. “Esses profissionais elaboram suas funções em um ambiente de conflito, para o qual trazem suas realidades e problemas pessoais. A inteligência emocional é uma ferramenta fundamental para prevenir esses conflitos”, concluiu. Mestra em psicologia Social e do Trabalho, Walkyria Camarotti falou dos riscos psicossociais de adoecimento no trabalho. “Para realizar qualquer trabalho, o profissional precisa se adaptar e essa adaptação gera sempre algum sofrimento, na medida que produz estresse”, afirmou, explicando que quanto maior a necessidade de adaptação, maior o estresse. No caso do ambiente prisional, afirmou a psicóloga, há uma relação direta e permanente com o sofrimento, o que produz nos agentes um estresse crônico. “A carga psíquica envolvida na atividade desses profissionais é muito forte, provocando uma série de doenças, que vão de uma simples insônia a casos severos de depressão”, afirmou, acrescentando que “o maior risco é continuar trabalhando doente”, o que ressalta a importância de tratar esses agentes prisionais, como se propõe o projeto lançado hoje.
Deixe seu comentário