Por: Mohammad Padilha
“Tenho uma grande novidade para te dar, e, é que me reconciliei com zefis, e que o serralho que estava dividido entre nós duas, se reuniu. Só tu nos faltas neste país onde reina a paz: Vem, pois meu querido Usbek, vem, para que triunfe o amor.” Montesquieu – Cartas Persas (Carta XLVII) Zachi a Usbek, de Paris.
Às vezes fico remoendo por dentro, escarafunchando ilações, intuindo suposições e ate buscando razões no inconsciente e no irracional dos porquês humanos. Estou referindo-me à sanha, ao anelo, ao frenesi que acomete humanos políticos, aliás, muito mais políticos que humanos! É como se a alquimia metafísica da lua cheia que altera as marés, que desperta o cio dos lobos; os caranguejos e aracnídeos para a andada; as mulas sem cabeça para espojarem-se nas encruzilhadas; os lobisomens sedentos por sangue, também afete e arrebate os homens políticos, predominantemente os mais políticos que humanos. Arrebatados da razão lógica para o impulsivo festim da psique que se contorce sedenta por votos endorfínicos de natureza lúdica. Deve ser!
Noites delirantes e agitadas, eles levam as angústias e os anelos para sob os lençóis e lá se enroscam desvairados num corpo-a-corpo estafante e suarento onde não há vencedores. São salvos pela madrugar do dia que lhes toma da noite para a dura realidade das ruas, das ladeiras íngremes, dos barracos fedorentos, das águas sujas, das crianças cheirando a miséria, dos suores acres da pobreza, da excludência do sabão. É aí onde nadam a braçadas na desesperança dos crédulos, onde mendigam votos, travestidos de personagens lacrimosos, suplicantes e teatralizados.
E lá se vão eles às primeiras luzes da manhã em busca do ouro dos tolos, dos crédulos inocentes, dos coniventes involuntários, dos compradores de sonhos e de analgésicos genéricos para decepções crônicas e recorrentes.
Pavoneando-se numa dança de acasalamento explícito-apelativo; eles gritam em reclames tanto o quanto sussurram a ouvidos serosos, os seus segredos de promessas megalomaníacas entre lábias verdes espumosas e babas turvas de eloquência e retórica. O bafo evanescente, já não intimida. É um blended de spray para halitose com o vapor de flato que emana da buchada azeda de ontem; coisas entre pares díspares tomados por interesses supostamente coincidentes. Um por sonhos utópicos, o outro pelo Nirvana do poder. É um vale-tudo com gritos de salve-se quem puder no entremeado dos gemidos doridos como das meretrizes mal pagas.
Uns exibem pelagens luzidias de brilho ofuscante; outros, penas com cores metálico-brilhosas. Cantam tal como as sílfides no banquete de Baco como se afastassem temerosos, a derrota retratada simbolicamente como a taça de cicuta que matou Sócrates em semivoluntário suicídio.
E tome promessas; planos mirabolantes; projetos faraônicos; uma miríade de sonhos utópicos. Alguns eleitores, ainda assim, extrapolam com pedidos bizarros e garantias de exequidade, como num caso exemplar, recentemente ocorrido – O Caso e o colóquio:
Eleitor:_ O senhor faz a “Tabula Roxa?”.
Candidato:_ Mas claro! Roxinha da Silva! Isso está inserido prioritariamente no nosso Programa de Governo!
E outro, e outros e vários eleitores também questionaram o faustoso candidato se ele faria a “Tabula Roxa?” Ao que ele enfático, assegurava fazê-lo repetidas vezes. Era promessa de campanha, reassegurava!
À noite ao chegar a casa, literalmente exausto; o seu suor oleoso fede a ganância apodrecida; joga-se na cama sem sequer lavar os pés. Falta-lhe tempo e disposição para submeter sua consciência ao racional juízo critico e às inquirições do Tribunal da Ética, fechado há tempos por inutilidade na sua consciência . O homem está abatido pela lida do caça-votos, um farrapo. A esposa deita-se ao seu lado e dá-lhe às costas; o candidato-marido fede ao indescritível.
Ele, embora muito sonolento e cansado, ainda consegue lembrar-se do “Tabula Roxa” que não lhe saia da cabeça. Curioso, pergunta à esposa: _ Querida, você faz “Tabula Roxa?”.
Não se ouviu palavras. A resposta veio num estalar de bofetada certeiramente aplicada na cara do inquisidor. Só depois em tom áspero-coloquial surge a frase: _ Me respeite, Antenor! Eu nunca fui mulher de fazer essas coisas. Pergunte à sua senhora mãe? Ela faz!
E ele dormiu o sono dos políticos ao abandono da própria curiosidade tanto quanto o faz da opinião pública.
E você? Você faz a “Tabula Roxa”? Ajuda aí vai!
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