Instituto Nossa Ilhéus completa cinco anos. Confira entrevista sobre as principais desafios e conquistas


Em 09 de março de 2012, nascia o Instituto Nossa Ilhéus (INI), organização não governamental da sociedade civil organizada e apartidária. É fruto do sonho de Maria do Socorro Mendonça, uma ilheense que deseja uma cidade mais justa e sustentável e com um poder público que respeite os potenciais naturais para seu desenvolvimento. Ao lado dela, esteve a co-fundadora, Morgana Martins Krieger, que trouxe seu know-how em politicas públicas.

Seguindo os princípios e valores como transparência, democracia participativa, empreendedorismo social, sustentabilidade, responsabilidade ambiental, participação cidadã, impacto em politicas públicas, ao longo desses cinco anos, o INI tem construído e comprovado a ideia de que a sociedade civil pode (e deve!) atuar para fortalecer o poder público e impactar positivamente na cidade.

Hoje, o Instituto conta com 47 associados, um corpo de nove conselheiros deliberativos e quatro do conselho fiscal, por entender que, se cobra transparência do governo, deve, ele mesmo, ser exemplo. Confira a entrevista com a diretora-presidente do INI, Maria do Socorro Mendonça.

*Entrevista publicada na edição de 17 de março de 2017 do jornal Diário de Ilhéus.

Por que o Instituto Nossa Ilhéus foi criado e como atua?

Maria do Socorro Mendonça – O Instituto Nossa Ilhéus surgiu a partir do sonho de que todo(a) cidadão(ã) seja empoderado(a) dos seus direitos e deveres, que seja conhecedor do papel do poder público constituído e de como podemos contribuir com quem elegemos para que a cidade seja, de fato, nossa.

Atuamos com a realização de projetos como o “De Olho na Câmara de Vereadores”, o “Cultivando Cidadania”, “A Ilhéus que Queremos”, convidando a população a se unir ao poder público e fazer uma Ilhéus melhor para todos. Agora, estamos extrapolando a barreira geográfica do nosso município e já atuando no Território Litoral Sul, no fortalecimento do poder público com o Plano de Metas, que é uma iniciativa da Rede Brasileira de Cidades, da qual integramos a Secretaria Colegiada. Para isso, contamos com a inestimável parceria do Instituto Arapyaú.

Como foram os primeiro anos do INI?

M.S.M. – Inicialmente fomos vistos com receio pela população e também pelos políticos partidários, pois era ano de eleição. O projeto “A Ilhéus que Queremos – A Cidade é Movida pela Cultura” em parceria com o Teatro Popular de Ilhéus, teve impacto positivo, principalmente na juventude que já atuava político partidariamente, mostrando uma nova forma de fazer política. Os três primeiros anos de nossa atuação foram bem desafiadores, principalmente junto ao legislativo. A consolidação da nossa atuação aconteceu com o tempo e apresentação de resultados positivos de forma transparente desde o início.

As primeiras ações do INI, em 2012, são o lançamento dos indicadores e do Programa Cidades Sustentáveis em Ilhéus. Como isso impactou nas políticas públicas do município?

M.S.M. – O sistema de indicadores e o Programa Cidades Sustentáveis nos trouxe perspectivas reais de um governo municipal mais transparente e preocupado com o diálogo com a sociedade. Já no primeiro ano, conseguimos adesão de todos os candidatos a prefeito. Começamos a semear aqui a importância do uso de dados abertos pela prefeitura, o que confere mais transparência e maior possibilidade da população saber se os principais problemas estão sendo, de fato, solucionados – melhoria ou não de indicadores sociais – além do próprio gestor poder acompanhar o desempenho de cada secretaria observando esses dados.

Isso tudo é inovador, tem sido feito em mais de 300 municípios brasileiros e com resultados surpreendentes. Trouxemos isso para Ilhéus que, mais uma vez, é signatária da carta-compromisso com esse Programa. Também ampliamos as adesões para outros municípios do Território Litoral Sul. Estamos esperançosos de que todo esse esforço de torne realidade muito em breve.

O INI é pioneiro na criação da metodologia de monitoramento do legislativo, conhecido como “De olho na Câmara de Vereadores”. Muito se tem falado sobre o projeto, inclusive, em artigos acadêmicos apresentados no Brasil e em outros países. Algumas instituições da sociedade civil organizada de outros municípios tem entrado em contato para aplicar a metodologia. Como funciona o De Olho na Câmara de Vereadores?

M.S.M. – Consideramos que o projeto se divide em três áreas: Monitoramento – realizado com base na Lei de Acesso à Informação, o INI solicita à Câmara de Vereadores informações públicas, tais como a lista de presença dos vereadores, produção legislativa, entre outros; Avaliação – com as informações em mãos, lançamos todos os dados em uma tabela Excel e os tabulamos, produzindo relatórios quantitativos da frequência dos vereadores e da sua produção legislativa; e Divulgação – depois de produzir o relatório, todas as informações são disponibilizadas gratuitamente no site do Instituto, o www.nossailheus.org.br. Dessa forma, o cidadão tem acesso mais fácil às informações sobre a atuação dos vereadores e poderá tirar suas próprias conclusões sobre o desempenho deles. Além disso, pode acompanhar as discussões no grupo De Olho na Câmara de Vereadores de Ilhéus, pelo Facebook.

Por que acredita que o projeto atingiu esse sucesso?

M.S.M. –  O projeto De olho na Câmara permite que a sociedade tenha protagonismo, fortaleça o poder público que a mesma ajudou a estabelecer, já que, por meio do monitoramento, influencia e sugestiona o legislativo, composto por seus representantes diretos. A metodologia que criamos já é aplicada em Uruçuca e Mococa (SP). Outros grupos da sociedade civil de Salvador, Itabuna, Buerarema, Ourinhos (SP) e Varginha (MG) já entraram em contato para aprender como faz. Aqui em Ilhéus, estamos crendo que essa legislatura será um divisor de águas e atuará como deve ser um legislativo, sendo também, exemplo para nossa sociedade. Precisamos ter algo para mostrar ao mundo que nos faça sentir honrados, sendo exemplo de poder público que atua conforme reza nossa Democracia.

Você passou  por uma seleção de quase dois anos até, finalmente, ser uma das 379 empreendedoras sociais brasileiras (Fellow Ashoka). Isso tem a ver com o De olho na Câmara? O que significa ser Fellow Ashoka? 

M.S.M.- A Ashoka é uma organização internacional que tem foco no empreendedorismo social, fundada em 1980. No Brasil, atua desde 1987, investindo em empreendedores que são conhecidos como “fellows”, que são pessoas que, por meio de seus sonhos e ideias, geram transformação na sociedade.

Para mim, foi outro grande desafio participar desta seleção onde apenas eu concorria comigo mesma. O sonho, a capacidade de empreender e as ações inovadoras é que me tornariam uma “Fellow Ashoka”. O projeto “De Olho na Câmara de Vereadores” foi o projeto inovador que chamou atenção daquela instituição, além de características pessoais que também são fundamentais na seleção.

Ao longo desses cinco anos, o INI teve muitos desafios e conquistas, o que resultou na crescente construção de sua credibilidade. Quais outros marcos podem ser citados e que conferiram grande impacto para a cidade e região?

M.S.M.- Podemos citar o convênio com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) para capacitação de gestores públicos eleitos, a plataforma “Território Litoral Sul MAIS Sustentável” com indicadores sociais que estarão disponíveis na Universidade. A realização do evento Google I/O Extended que terá este ano a sua terceira edição e tem como objetivo fomentar o empreendedorismos digital e a inovação tecnológica no Território Litoral Sul da Bahia. Buscamos promover o ativismo digital, o engajamento e a colaboração, visando a disseminação desses valores em nossa Região, em parceria com o SEBRAE e a UESC. A participação do INI em diversos espaços de governança, ligados à cadeia produtiva do cacau, ao turismo, à cidade, à agricultura e pesca, além do Grupo Gestor do Território Litoral Sul. A adesão de 18 prefeitos eleitos ao Programa Cidades Sustentáveis.

 Quais os próximos passos que o INI vai dar para ampliar suas ações este ano?

M.S.M.- Este ano temos vários desafios. O principal deles é a construção do aplicativo MAIS ILHÉUS, que é produto do apoio da Ashoka e uma evolução do monitoramento que já realizamos. Será um negócio social que tem como objetivo melhorar os serviços públicos da cidade, por meio da participação da população, que irá avaliar esses serviços. Durante as pesquisas cidadãs que realizamos, percebemos que o maior desejo das pessoas em relação ao que e público, é que os serviços funcionem. Assim, já fizemos o protótipo e apresentamos na 3ª edição do Grow2Impact, em São Paulo, em fevereiro. Agora, estamos buscando recursos para que se torne uma realidade.

Quais são as causas do INI e como voluntários podem se engajar?

M.S.M.- – Os voluntários podem se engajar de diversas formas e entendemos que a principal delas é participar do projeto De olho na Câmara, acompanhando das sessões da Câmara de Vereadores e divulgando as acoes nas redes sociais, além de profissionais que podem colocar seus serviços à disposição do INI, como já existem. Além disso, podem doar tempo para organizar nossa biblioteca, alem de serviços de web designer e manutenção do nosso site, tradução dos nossos acervos. Podem também doar materiais de escritório.

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