De Mohammad Padilha
Isso não ocorre apenas em São Paulo e Brasília, predomina em todo Brasil. Os desvios de conduta, as roubalheiras, etc.; deixaram de constituir ocorrências episódicas e passaram a predominar como metodologia única no exercício e pratica políticas. A política brasileira como julga alguns, não vive um momento atípico; conforme demonstram o estranhamento e a indignação de todos os brasileiros com fatos recentes reprisados da nossa história. Apropriar-se de forma espúria do erário público em benefício próprio, passou a ser tão trivial quanto registrar uma candidatura no TRE: Apenas uma candidatura! Nada se perde. Estamos vivenciando um estado de consensualidade, condescendência e mútuas tolerâncias que, juntas, tornam impossível separar réus de vítimas; acho que somos todos, povo e políticos, os réus na materialidade desses delitos.
Estamos todos no mesmo bloco em que anunciava o nosso craque Gerson, na propaganda dos cigarros Clássicos: “Brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?”. As “vantagens”, continuadas estão custando-nos muito caro! Vê-se nitidamente, a desagregação que resulta no apodrecimento moral e ético que atinge uma classe em especial, a dos políticos. Fomentam o descrédito que acomete os brasileiros com relação aos institutos legais do Estado, representados pelo legislativo, executivo e judiciário. Diante de tanta delinquência institucionalizada; alforriadas autoatribuídas; “imunidades e foros especiais”, indulgências genéricas e impunidades. Nesse sumidouro imoral, o brasileiro vê-se como cidadão de segunda categoria quando afere e se dá conta da desimportância com que o estado de direito encara seus valores morais, sua idoneidade, sua integridade jurídica, seus direitos constitucionais, sua moral coletiva…
Estamos pagando caro por essas “vantagens” típicas da expertise brasileira. Exercemos com indiferença e omissão os direitos plenos duma cidadania constitucional duvidosamente democrática e excessivamente liberal. Nossa “tolerância” confunde-se com um compactuar volitivo, como se mancomunássemos inconscientemente com tudo aquilo de errado, que nos é prejudicial e adverso coletivamente. Claro, se a nossa parte de “expertos” no botim, levar alguma vantagem ou for poupada do penhor físico e do custo moral resultante; fica bem pra nós! Assim está tudo bem! Será?
A indolência epicurista e preguiçosa; talvez o simples esnobismo dum elitismo social visivelmente decadente; o comodismo, o quietismo conformista, a ataraxia generalizada, fazem com que nosso povo esqueça e ate se enfastie do Exercício Pleno da Cidadania. Que assistamos impassíveis, todas as formas de atitudes capituladas como desvios de conduta, contravenção, roubo, apropriação indébita, com inquestionável resignação de normalidade. Deixa pra lá… De nada adianta reclamar! E ficamos reclusos nas urdiduras veladas das fofocas de comadres, nas mesas dos bares, nas festas e batizados ou feito lavadeiras nas pedras do lagar das roupas sujas às beiradas dos rios esgotos.
O Brasil está assim, exatamente como não o desejávamos; mas como uma resultante da nossa omissão. Cá está ele à mercê dos cupins, nossos representantes, que se alimentam vorazmente dos seus constituintes morais, do seu erário e do suor do seu povo. Os exemplos e os fatos saltam aos nossos olhos parvos de decepção. A plebe é medíocre e amnésica, há que se reconhecer. E a política, uma “feira do rolo” onde se negociam tudo; quotas de cargos, informações, parcerias, empregos, nepotismos cruzados, e se faz um lucrozinho por baixo dos panos, longe do Judiciário, mas às vistas do povo. Não aram, não gradeiam, não adubam, não plantam nada! Não trabalham! Mas colhem com fartura, o produto ao que nos parece brotar numa terra virtualizada na retórica da loquacidade e do engodo, tudo roubado.
Aí tentamos encontrar inutilmente em nossa vasta genealogia e história pregressa, o cromossoma atávico recessivo que transmitiu por gerações em gerações essas excepcionalidades morais. Nada! Essas são velhas raízes ruins da nossa etnosociologia. Já à época do Brasil colônia, o erudito Jesuíta Padre Vieira, em sua lingüística, típica elaborada no barroco europeu, já admoestava com as chamas do inferno os lusos colonizadores, também chegados ao ócio, à mão boba sobre o tesouro e aos mimos palacianos.
“O que eu posso acrescentar pela experiência que tenho, é que não só do Cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes do Aquém, se usa igualmente a mesma conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio, porque furtam de todos os modos da arte… Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo… Furtam pelo modo imperativo… Furtam pelo modo mandativo… Furtam pelo modo optativo… Furtam pelo modo conjuntivo… Furtam pelo modo potencial… furtam pelo modo permissivo… Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes, em que se vão continuando os furtos.”.
Por enquanto vou atendo-me generalista, vou deitando olhares sobre o mais negro aspecto ideológico comportamental da macro-política brasileira, lá em Brasília. Ainda é muito cedo e prematuro qualquer elogio ou crítica. Mas assim que encontrarmos casuística para a discussão e análise crítica; faremos mergulhos temáticos sobre a política partidária e sobre as práticas administrativas resultantes sobre Ilhéus. Calma… Vamos chegar lá. O elogio de agora transparecerá ovos babados. A crítica, ressentimento de não nomeado ao primeiro escalão.
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