Jair Bolsonaro X Jean Wyllys


De Júlio Gomes

Júlio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc. E-mail: juliogomesartigos@gmail.com.
Júlio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc. E-mail: [email protected].

O Brasil inteiro assistiu ao vivo, quando da votação da admissibilidade do impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff, o voto dos Deputados Federais e arqui-inimigos Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ), ocorrido na tristemente histórica e patética sessão da Câmara dos Deputados do dia 17 de abril de 2016.

Oscilavam os votos entre as afirmações calorosas e as manifestações envergonhadas, entre o verossímil e o inacreditável quando o Dep. Bolsonaro fez o que ninguém acreditaria que pudesse ser feito: dedicou seu voto ao Coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, que representa o que houve de pior, mais covarde, desumano e infame no contexto da ditadura militar que existiu no Brasil entre 1964 e 1985.

Muitas pessoas não conseguem entender o motivo de tamanha indignação e revolta por parte de tantas pessoas em todo o Brasil, talvez por desconhecer a biografia do Coronel Ustra. Pois bem: Foi este Coronel que comandou, durante o período mais sanguinário da Ditadura, entre 1970 e 1974, o DOI-CODI do 2º Exército (São Paulo), órgão destinado a promover a repressão armada aos opositores do regime, o que era feito sem nenhum limite de legalidade e de humanidade, extrapolando violentamente o papel de mantenedor da ordem social.

Condenado em primeira e segunda instância pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em sentença declaratória que o reconheceu como responsável por sequestros e tortura à frente do DOI-CODI, e acusado com base em um documento do próprio Exército pela morte de pelo menos 50 pessoas no mesmo período, o Cel. Ustra era, segundo o depoimento de um sargento que serviu na mesma unidade, “senhor da vida e da morte”, que “escolhia quem ia viver e ia morrer”.

Ora, a lei brasileira jamais permitiu a quais quer órgão de segurança a prática de sequestro, execução sumária e tortura, que neste caso incluíam “pau de arara”, eletrochoques na boca e regiões genitais e introdução de rato vivo na vagina das vítimas, segundo relatos das sobreviventes, o que explica e justifica o repúdio da imensa maioria dos brasileiros aos atos de Ustra à frente do DOI-CODI. É o inaceitável, e ponto final!

Voltando à votação, logo após o voto de Bolsonaro na sessão da Câmara, votaram a Deputada Jandira Freghali (PCdoB-RJ) e o Deputado Jean Wyllys. Entretanto Wyllys, imediatamente após votar, sob a argumentação de ter sido ofendido por Bolsonaro, desfere um cuspe no rosto deste.

Ora, o campo da política é o do debate, da disputa verbal, da votação. Exaltar um torturador assassino como Ustra pode até ser bem mais grave do que cuspir em alguém. Mas ambas as ações são inaceitáveis, incompatíveis com a conduta de um deputado em plenário e com os princípios de dignidade humana. Bolsonaro pode até ter merecido a cuspida na cara, mas cabia a Jean NÃO responder desta forma, e sim politicamente, mediante o uso de sua prerrogativa de manifestar-se como Deputado, dentro de princípios do mínimo de respeito que deve reger as relações entre seres humanos.

Entretanto, o pior resultado das ações de Bolsonaro e Jean, mais do aquilo que ocorreu em si mesmo, talvez seja empurrar os brasileiros em direção a uma postura ou de extrema e desumana agressividade, ou de total distanciamento da política. Uma é tão prejudicial ao Brasil e aos brasileiros quanto a outra.

Posso até compreender as razões alegadas por ambos para tentar justificar suas condutas. Mas, sinceramente, agindo como agiram, nenhum dos dois me representa.