De Júlio Gomes
Quem estuda ou produz no campo da História sabe que há fatos que, para serem devidamente interpretados, precisam de um certo tempo para ser melhor analisados, mais adequadamente contextualizados ou mesmo digeridos.
A votação da admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma ocorrida no dia 17/04/2016 foi, sem dúvida, um desses fatos ou momentos históricos que requererão leitura e releitura, análise e reanálise para que possamos apreender toda a extensão de seu significado.
Até por sermos brasileiros, o que dificulta bastante que tenhamos uma visão menos apaixonada, mais racional do citado episódio, foi muito salutar ouvir a repercussão da votação dos deputados brasileiros pelo mundo afora, em órgãos de imprensa conceituados como The New York Times, El País, The Guardian, Le Monde e outros da mesma estatura, além das reportagens nas principais emissoras de TV estrangeiras.
No enfoque destes veículos de imprensa duas coisas saltaram aos olhos dos observadores internacionais: A ausência de base jurídica para que ocorresse a aprovação da proposta – que era o que realmente deveria importar nesta discussão – e a verdadeira palhaçada em que se constituiu a manifestação de grande parte dos Deputados Federais brasileiros.
Sinto-me constrangido em repisar o vergonhoso: Pela minha esposa, pelos corretores de imóveis, pela minha tia, etc. etc… Tudo, menos a confirmação de que a presidente teria cometido crime de responsabilidade. Para os mais sem noção, valeu até mesmo estourar um bastão de soltar confetes, ou chamar ao filho para verbalizar o voto. Deprimente…
O inacreditável e o vergonhoso não se limitaram à forma, mas penetraram também o conteúdo, como quando o Deputado Jair Bolsonaro (PSC – RJ) exaltou a memória do torturador Coronel Ustra, militar que atuava pessoalmente nas sessões de tortura, a quem são imputadas inúmeras mortes e atos tais como como introduzir ratos vivos nas vaginas das presas políticas.
E o deprimente, a absoluta falta de limite na conduta pessoal e parlamentar se estendem quando Jean Wyllys (PSOL – RJ) ao invés de dar uma resposta política a Bolsonaro – como cabe a um Deputado fazer – opta por cuspir nele em plena Câmara.
Um show de horrores que, sem dúvida, nos expõe e envergonha, mas do qual também nós, o povo, temos também uma parcela de culpa, pois quem elegeu representantes dessa péssima qualidade política e de tão indecorosa conduta pessoal, fomos nós, o povo, que muitas vezes brincamos com nossos votos para deputados, tanto quanto eles também brincaram na Câmara, diante das câmeras de TV do mundo inteiro.
Por fim, em eloquente contraste, chamo a atenção para a atitude digna, sensata, equilibrada da Presidente Dilma ante todos estes episódios, jamais se referindo a familiares, jamais atacando a moral pessoal de seus opositores, jamais colocando Deus no meio da politicagem, jamais se afastando um ponto, uma vírgula sequer da defesa estritamente política e institucional de suas posições políticas.
Ao contrário da maioria de nossos deputados, Dilma mostra ao mundo que no Brasil há, sim, sensatez, respeito e dignidade entre nós, e que não somos todos um bando de loucos, nem de palhaços.
Deixe seu comentário