Por Gustavo Kruschewsky/gcezar@uesc.br
Muitas pessoas pensam, de forma equivocada, que foi o brasileiro quem criou o carnaval. Com a palavra João Oliveira Souza, professor mestre do Departamento de Filosofia e Teologia da UCG – Universidade Católica de Goiás – que assim se reportou ao surgimento do carnaval aqui no Brasil: “a mistura da tradição europeia com os ritmos musicais dos africanos criou no Brasil um dos maiores espetáculos populares do mundo. O carnaval nasceu no Egito, passou pela Grécia e por Roma, foi adaptado pela Igreja Católica e desembarcou aqui no século XVII, trazido pelos portugueses”. É a festa mais propícia para o oferecimento e organização pública pelos “governantes” de distração ao povo brasileiro! Porém, nem todos curtem mais o carnaval – acham que seu tempo já passou – ou então nunca curtiram. Muitas pessoas evitam a participação na “festa”, preocupadas em serem vitimadas, por causa da violência que grassa no país.
Mas, como se verifica com o achado acima, pressupõe-se que pessoas de todas as classes sociais, excluindo – em tese – os que professam outras religiões que não seja a religião Cristã Católica, caem na folia do carnaval. Aqueles que curtem a época da folia momesca esquecem os problemas que o país está passando e que precisa de sua reação constante para reverter o quadro. É importante que os participantes curtam esse momento de forma saudável e retornem com o compromisso de exercerem a sua cidadania social e política.
O carnaval é uma forma de oportunizar às pessoas momentos de alegria, congratulações, distrações e demonstrar – com o impulso do entusiasmo da festa – mais amor a Deus, a si e ao próximo. Acredito que essa foi a ideia da Igreja Católica quando em tempos idos adaptou o carnaval, que hoje é uma festa de referência na cultura brasileira, se bem que um pouco modificada e de certo modo desvirtuada pelo seu avanço histórico que a Igreja parece se preocupar, sobretudo pelas constantes mortes e violências que ocorrem nesse evento e notícias constantes de superfaturamento do erário público em alguns governos municipais inescrupulosos a fim de fazer face aos “pagamentos” dos serviços que exige a festa.
Portanto, é uma festa do povo, para o povo, bancada com o seu dinheiro suado, que tem que ser administrado pelos “governantes” através de investimentos comprovados para ornamentação de ruas, praças, pagamentos de bandas, que irão abrilhantar a festa, horas extras a funcionários públicos e contratados para trabalharem no evento e outros serviços. Não cabendo – sob pena de ressarcimento de despesas pelos responsáveis – criar camarote especial, transformando-o em local particular de prefeito e vereadores a fim de oferecer fartos comes e bebes de graça para vários convidados, bancados com o dinheiro do povo. Nessa festa se deve cair sim no esquecimento do que é ou do que pensa que é. Nesse momento deve reinar a paz e todos são iguais perante a festa. O carnaval é o momento precioso de revolver essa maldita hierarquia na sociedade brasileira.
No carnaval todos são iguais! O povo vai a público e se aglomera nas ruas e praças para se divertir em alguns poucos dias e muitas pessoas, por efeito, esquecem a subserviência que passam em muitas situações no dia a dia. Nesse momento é preciso decair da posição de “poderoso” – que diz que tem “função pública” ou não – e se transformar em verdadeiro folião, e que as mulheres devam deixar de lado o seu “recato” social que se apresenta no cotidiano e demonstrar sensualidade e até mesmo doses elevadas de lascívias. Portanto, quem participa do carnaval deve aproveitar o momento de curtir a alegria do encontro das festas carnavalescas compensando, contrabalanceando a “realidade”, ou seja, a amargura que todos sofrem, principalmente por culpa de alguns, com a crise econômica e política aqui no Brasil. Do contrário não participem da festa, migrem para outros locais ou aboletem-se nas suas casas até as cinzas do carnaval se dissiparem.
O professor João Oliveira Souza, citado e qualificado acima, aponta ainda o antropólogo Roberto Da Matta, autor de Carnavais, Malandros e Heróis (Rio, Ed.Zahar,1979), o qual “define a folia como um rito de inversão, que subverte as hierarquias cotidianas: transforma pobres em faraós, ricos em mascarados, homens em mulheres, recato em luxúria. Uma compensação da realidade”.
O ser humano precisa compensar a sua realidade, que pode ser traduzida em alguns fatores que lhes geram algum desconforto ou até mesmo sofrimento! O carnaval é uma festa que tem esse condão. Enfim, lembro-me, às vezes, dos velhos carnavais que participei e digo para o âmago do meu coração: “não existem mais carnavais como antigamente”.
*Gustavo Cezar do Amaral Kruschewsky é Professor e Advogado
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