Raposa não pode tomar conta de galinheiro


Por Targino Machado

Targino Machado
Targino Machado é médico e deputado estadual da Bahia.

Em tempos pretéritos, já me referi ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), como tribunal carlista dos municípios e cemitério de políticos aposentados do carlismo, pois aquela Corte era aparelhada e colocada a serviço do grupo político, à época, hegemônico na Bahia. Este expediente servia para cooptar prefeitos com problemas com as contas dos municípios e, por vezes, para perseguir adversários políticos.

Várias vezes me servi do mandato para denunciar essas práticas, que imaginava seriam sepultadas junto com o líder político que as instituiu.

O tempo passou, os personagens do poder são outros. Vejo com tristeza aqueles que, conosco, faziam fila a criticar as velhas práticas, hoje como protagonistas da política fazendo igual ou pior.

Tenho vergonha do crime perpetrado pela Assembleia Legislativa da Bahia, no final do ano passado, quando não tiveram vergonha de aprovar o nome do deputado Mário Negromonte para compor o TCM, atendendo, assim, o pedido do então governador Jaques Wagner.

Honra-me muito ter sido o único deputado a se pronunciar contrário a imoralidade de aprovar o nome de um investigado pela Polícia Federal para compor aquela Corte de Contas. Cheguei a chamar a atenção dos senhores deputados, que seria como nomear vampiro para administrar banco de sangue. Fui voto vencido. Nomearam raposa para tomar conta de galinheiro.

Hoje se toma conhecimento, que o Conselheiro Negromonte era o operador da quadrilha do PP da Bahia, que recebia valores desviados da Petrobras, para dividi-los com os colegas da gang.

Que ignomínia, os deputados estaduais, por ampla maioria, colocaram um bandido no Tribunal de Contas dos Municípios para fiscalizar a aplicação dos recursos dos municípios, pelos seus prefeitos.

De duas uma: ou aprova por medir a tudo pela sua mesma régua, ou vai achacando os prefeitos para vender pareceres favoráveis à aprovação das suas contas.

O fato é que o câncer, que estava primariamente alojado na Câmara Federal, atingiu o TCM em forma de metástase.

Ou se se faz a exérese deste tumor, ou todos os pareceres exarados pela aquela Corte estarão sob suspeição.

Fora, Mário Negromonte!

Que a Assembleia Legislativa da Bahia aprenda a lição.