Por Julio Gomes
Causa-me forte impressão o descuido de muitas mães de hoje em dia com a conduta de suas filhas ainda crianças, tanto nas classes mais populares como, até mesmo, nas mais abastadas e bem escolarizadas.
Na época em que era criança – nasci em 1965 – cresci ouvindo as mães advertindo suas filhas para que tivessem “modos” e “cuidado”. Uma das expressões mais ouvidas, quando as meninas se sentavam displicentemente, com as pernas abertas, mostrando em público a calcinha ou parte dela, era o famoso: “fecha as pernas, menina, e senta direito.”
Isso valia para ricos e pobres. Para negros e brancos. Para filhas de doutor ou de trabalhador rural. A preocupação das mães com o pudor e com não expor suas filhas permeava toda a sociedade.
Hoje, no Brasil, temos índices vergonhosos de violência sexual praticada contra crianças. Incorporou-se plenamente ao vocabulário cotidiano uma palavra antes quase desconhecida, que designa este tipo de crime: pedofilia.
Os números são alarmantes: Segundo o Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes no Brasil, publicado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos, com base em registros do SINAN, foram atendidos, em 2011, um total de 10.425 crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. A grande maioria do sexo feminino: 83,2%, sendo que a maior incidência de atendimentos registra-se na faixa de 10 a 14 anos.
Estes números não traduzem senão muito palidamente a realidade, que é muitíssimo pior, pois a criança ou adolescente simplesmente não dispõe, na imensa maioria das vezes, de meios para denunciar seu agressor, que quase sempre é um familiar com forte ascendência sobre ela, passando a sofrer a violência calada, por anos a fio.
Acrescente-se que, em muitos casos, após cometer o abuso ou a violência sexual, o criminoso, buscando não ser identificado, mata barbaramente a criança indefesa, trazendo-nos outra palavra bem pouco pronunciada em anos passados: infanticídio.
Para constatarmos esta avalanche de violência sexual contra crianças e adolescentes não precisamos recorrer às estatísticas oficiais. Basta ligarmos o rádio, a TV ou acessarmos à internet, e todos os dias nos depararemos com casos similares.
No Brasil em que as leis são normalmente ineficazes para conter a prática de crimes, resta às famílias – sobretudo às mães – dar as orientações cabíveis quanto à conduta e manter a vigilância necessária em favor de suas filhas e filhos. E denunciar imediatamente qualquer fato suspeito.
Aqui, mais do que nunca, mais vale prevenir do que remediar.
*Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: [email protected]
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