Por Sebastião Neto
O transporte coletivo de nossa cidade nada mais é do que uma forma perversa de garantir vultosos lucros aos donos da São Miguel e da Viametro, cobrando caro e submetendo os passageiros a um sofrimento contínuo. É um exemplo claro das relações – nocivas à sociedade – mantidas entre representantes do poder “público” e determinados setores do empresariado. Somente através da ação conscientemente articulada e planejada dos cidadãos seremos capazes de nos contrapor à ganância desses “tubarões” na defesa de um transporte público de qualidade e com preço justo.
Assim como a saúde e a educação, o transporte coletivo precisa ser entendido como um direito social que deve ser garantido pelo Estado, e não como uma mercadoria qualquer sujeita à logica do mercado. Desse modo, o estabelecimento do valor da tarifa deve levar em consideração a realidade social e econômica da cidade. Em uma cidade como a nossa – com uma economia “capenga”, com alto índice de desemprego e onde a maior parte da população sobrevive com uma renda inferior a um salário mínimo – o valor da tarifa atualmente em vigor (R$ 2,40) configura-se como uma verdadeira barreira ao exercício do direito de ir e vir, tendo reflexos negativos também no comércio, pois, afora o vale transporte que deve ser pago pelos comerciantes, reduz significativamente o poder de compra dos indivíduos.
Indo para Uesc outro dia, conheci a dona Arlete, moradora do Banco da Vitória. E do alto dos seus 71 anos de idade, lá ia ela em pé, sacolejando espremida entre outras pessoas naquela tarde de “sol em fúria”. Dei meu lugar a ela e fomos conversando. Ela me contou parte de sua história de vida: pariu e criou 15 filhos com muita dificuldade. Como a dona Arlete, vários idosos – homens e mulheres – penam diariamente nessas “latas de sardinhas”, há também mulheres grávidas ou com crianças de colo arriscando suas vidas. O tempo que leva para que determinados ônibus passem em certos locais é tão grande que muita gente prefere ir andando, correndo até o risco de ser vítima de um assalto, já que a falta de segurança é outro problema que nos assola.
Mas como os representantes do poder “público” não utilizam o transporte coletivo, e como frequentemente têm suas caríssimas campanhas eleitorais oportunamente financiadas também pelos “barões” das empresas de ônibus, seguem indiferentes ao nosso sofrimento. É por isso que as empresas “São Migué” e “Viamerda” oferecem esse serviço de péssima qualidade e com esse preço absurdo. E para piorar essa revoltante situação, na semana passada, o prefeito Jabes Ribeiro cometeu o disparate de anunciar o aumento da tarifa do transporte para R$ 2,60. Não podemos de forma alguma aceitar mais esse ataque, esses empresários e políticos cínicos estão gozando da nossa desgraça. Devemos responder de forma enérgica nos mobilizando e exigindo redução imediata do valor da tarifa em vigor e melhorias na qualidade do serviço.
Sebastião Neto – Estudante de Licenciatura da UESC, do Coletivo Retomada da Universidade Estadual de Santa Cruz e da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre (Anel).
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