Por Marcolino Reis
Em uma sociedade onde somos obrigados a nos dissipar de nossos pares para sobreviver, acertadamente é ótimo existir uma data onde retornamos ao seio familiar, à origem materna, para renovadamente convivermos e manifestarmos o amor pela figura da mãe.
Embora em distintos dias comemorativos, aproximam-se da totalidade os países que incluem em seus calendários o Dia das Mães, além do mais, nos é percebido que o dia das mães é considerado pelo mercado (sem perder para o natal) a festa mais importante do ano no Brasil e não temos dúvidas que o termômetro desse mérito dar-se pela intensidade de vendas nesses dias.
Em contexto brasileiro, onde hoje encontramos um quadro de mais de 50 milhões de jovens, representando cerca de um quarto da totalidade da população, é assíduo a maternidade de mães jovens e adolescentes, onde em nossas periferias em recorrentes casos, além de incumbir-se da responsabilidade de criar e educar seus filhos governando a jovem família em muitos casos com a presença masculina só de passeio, também sua origem socioeconômica influencia a baixíssima freqüência à escola e universidade.
Conforme pesquisas do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD) o acesso à educação torna-se bastante inferior em comparação com jovens e adolescentes sem filhos, muitas das vezes ocasionando o abandono dos estudos.
Embora vítimas do padrão cultural machista de nosso país, inúmeras destas mães jovens e adolescentes durante os demais dias do ano continuarão com suas jornadas duplas de vida doméstica e profissional assim mesmo jornadas triplas de donas de casa, trabalhadoras e estudantes do ensino básico ou universitário numa sociedade ainda presa aos valores conservadores e à educação das mulheres para a submissão então se tornando oportuna a comemoração do Dia das Mães intencionando uma reflexão com maior sagacidade sobre as condições atuais de vida das mães jovens e adolescentes brasileiras.
Porque em um país como o Brasil onde sua maioria de habitantes, são do sexo feminino, continuamos testemunhas do femicídio, feminicídio e o sexismo? O plenário na Câmara dos Deputados onde ocorreu o seminário Faces da Violência Contra a Mulher reuniu mulheres de todo o país que reivindicaram a autonomia sobre seu parto. Tomado por jovens mães com seus bebês na última quarta-feira antecedendo o dia das mães, elas indagaram e ecoaram “Pelo direito de parir, pelo direito de nascer. Somos todas Adeli pelo direito de escolher!” Em referência ao caso recente onde a Justiça demonstrando arbitrariedade determinou que a jovem mãe gaúcha, Adelir Carmem Lemos de Goes, fosse submetida a uma cesariana contra sua vontade e se sentindo sequestrada pela polícia ter lhe conduzido até o hospital, teve seu direito sobre seu próprio corpo cerceado.
Em, 2011 dos quase três milhões de nascimentos no país, 53% foram cesarianas, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitável o índice de 15%.
Tais ocorrências deveriam ter da sociedade, dos governos e legisladores uma ótica mais dispositiva com políticas públicas prudentes, entusiasmantes e decisivas para inúmeras questões correlatas às jovens mulheres, sobretudo á problemática social vivenciada cotidianamente pelas mães jovens e adolescentes em jornadas exaustivas de trabalhadoras, donas de casa e estudantes. Mas como isso poderia ocorrer com governos e legisladores em sua maioria homens? Precisaria de uma maior representatividade da mulher em legislaturas e governos com sua ótica feminista para existir avanços principalmente para as jovens mães.
Precisamos de ações imediatas de avanços em direitos das mães jovens e adolescentes e garantia dos já conquistados.
Precisamos da garantia de tranquilidade e cessar a sobrecarga existente nas mães jovens e adolescentes brasileiras com suas jornadas de trabalhadoras, donas de casas e estudantes onde medidas emergenciais como a criação e funcionamento de creches públicas, (principalmente dentro das Universidades, berço de muitas políticas públicas, assim dando exemplo de sua execução), cumpriria com uma real demanda de pais e mães universitários auxiliando na formação da juventude e das próprias crianças.
Precisamos, sobretudo, as mães jovens e adolescentes unificadas, se auto-organizando, modificando a sociedade com suas próprias mãos além de ampla reeducação da sociedade exterminando a cultura machista e sexista, pois lugar de mães, mulheres, jovens e adolescentes é onde elas quiserem e nunca mais a mercê da submissão por ser mulher.
*Marcos Vinicius Vieira Reis é graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Coordenador na Bahia da União dos Estudantes do Brasil, Membro da Frente Ampla de Estudantes.
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