O número de vítimas de compartilhamento de fotos íntimas através de aplicativos como o Whatsapp no Brasil mais que dobrou nestes últimos dois anos no país. A prática de “nude selfie” e “sexting”, se tornam um risco a invasão da privacidade na maioria de mulheres e causam consequências psicológicas nas vítimas quando se popularizam na web.
Em levantamento inédito feito pela ONG Safernet Brasil, os dados foram divulgados pela entidade que monitora crimes e violações dos direitos humanos na internet em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP). Este estudo mostra que, em 2013, a Safernet atendeu 101 casos de pessoas que tiveram a intimidade exposta indevidamente na web.
O número representa um crescimento de 110% em relação a 2012, quando a ONG contabilizou 48 pedidos de ajuda. Foram contabilizadas como vítimas àquelas que procuraram o serviço gratuito Helpline Brasil ou Canal de Ajuda da ONG e denunciaram o uso e veiculação indevidos e sem autorizações de fotografias, filmagens e conversas com conteúdo erótico ou pornográfico.
Segundo a psicóloga da Safernet Juliana Cunha, os adolescentes e jovens encontraram nos smartphones uma nova maneira de expressar sua sexualidade. Por isso, o “nude selfie” e o “sexting” fazem parte dessa nova cultura.
“O ‘selfie’ com nudez é mais um jogo sexual, numa fase de descobertas que sempre aconteceu na adolescência. O problema todo é que quase sempre há compartilhamento destas fotos e arquivos, que gera uma plateia enorme julgando a vítima através das redes sociais. “Não existe mais segredo entre duas pessoas na internet”, afirma a psicóloga.
A tendência para 2014 é de aumento no número de consultas psicológicas on-line sobre o compartilhamento indevido de fotos íntimas, estima a ONG. Entre janeiro de 2012 e fevereiro de 2014, foram 20 atendimentos oriundos de SP, seguidos por 11 da Bahia e seis do Rio de Janeiro.
Outra pesquisa feita pela Safernet em 2013, juntamente com a GVT, mostrou que 20% de 2.834 jovens brasileiros entrevistados afirmaram ter recebido conteúdos de “nude selfie” e “sexting”. E que 6% deles reenviaram essas imagens a outras pessoas.
O ato de exposição da vítima leva muitas vezes a mesma a cometer atos extremos. Em novembro de 2013, Júlia Rebeca, de 17 anos, se suicidou em Parnaíba (PI) depois que um vídeo íntimo dela começou a circular nas redes sociais.
A Safernet então para combater a prática, que mundialmente está em foco em diversas campanhas contra a exposição das pessoas na web, lançou uma campanha mundial nesta segunda-feira (14), a Safernet contra a divulgação e o compartilhamento de fotos, vídeos e troca de mensagens íntimas de crianças, adolescentes e jovens nas redes sociais.
No cartaz da campanha aparecem mensagens de alerta para que imagens íntimas compartilhadas não caiam nas mãos de mais gente, como “A internet não guarda segredos” e “Mantenha sua intimidade off-line”.
A divulgação de fotos, vídeos e outros materiais com teor sexual sem o consentimento do dono pode ser interpretada pela Justiça como crime, de acordo com diversas leis. O ato pode ser classificado como difamação (imputar fato ofensivo à reputação) ou injúria (ofender a dignidade ou decoro), segundo os artigos 139 e 140 do Código Penal.
Além de diversos artigos que da lei que protegem pessoas deste tipo de crime virtual, o Marco Civil da Internet prevê no seu artigo 21, que aguarda aprovação pelo Senado para virar lei, que a vítima pode pedir ao provedor a retirada de conteúdo próprio de nudez, sem a necessidade de advogado ou de recorrer ao judiciário, agindo por conta própria tendo a lei como seu maior apoio contra a violação.
Informações do Diário 24 horas
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