Por Julio Cezar de Oliveira Gomes
Patético. Primeiro, as escolas municipais foram orientadas a não comparecer com seus alunos ao desfile cívico. Os colégios particulares seguiram a mesma orientação. As escolas do estado se ausentaram todas, como que por um toque de mágica. Outros grupos e organizações, como idosos, Apae, ex combatentes e escoteiros, também não compareceram ao desfile, embora se pudesse ver um ou outro aluno da Apae presente.
Das lojas maçônicas, somente uma compareceu. Além disso, a notícia corrente foi de que o serviço de ônibus amanheceu funcionando precariamente, o que prejudicou a vinda de pessoas de localidades mais distantes.
As notícias que circularam na mídia nacional também davam conta de que o Sete de Setembro seria marcado por protestos, em todo o Brasil. Sem dúvida, isto ajudou a motivar o povo para não vir assistir aos desfiles comemorativos.
Para coroar tudo isto, choveu fortemente durante boa parte da noite e praticamente toda a manhã, sem parar. Como quem manda a chuva é Deus, lembrei-me de um conhecido, que dizia que Deus é de direita.
Recuso-me a crer em tal coisa! Penso que Deus não seja nem de esquerda, nem de direita, nem de Centro. É simplesmente Deus. Mas que a chuva constante ajudou muito a desmobilizar a vinda do povo para os desfiles, isto ajudou!
Os vendedores de salgados, bolos e churrascos, como que guiados pelo sexto sentido que têm os comerciantes, em sua imensa maioria, não vieram. Aos que compareceram restou um duro prejuízo.
Assim, desfilaram somente cerca de 250 militares, uma única escola, o CPM – Colégio da Polícia Militar, uns parcos representantes da maçonaria, o movimento Reúne Ilhéus e o Grito dos Excluídos, diante de um público que, no total, deve ter girado em torno de, no máximo, 700 (isso mesmo, setecentas) pessoas, que corajosamente vieram assistir ao Sete de Setembro. Mais pessoas desfilando do que assistindo aos desfiles.
Após passarem por um carrancudo e envelhecido prefeito, com o rosto mais contrariado do que qualquer militar ali presente, o desfile – se é que podemos chamar assim – se encerou às 9:30 horas.
Intimamente, talvez o prefeito sorria em sua amarga amargura. Conseguiu o que queria: fez o pior desfile de sete de Setembro da história de Ilhéus, livrando-se, é certo, das inevitáveis vaias que a população dedica aos maus governantes.
Mais uma vez a cidade pagou o pato. Que importam as tradições cívicas? Que importa a juventude desmobilizada? Que importa o investimento daqueles que, pais, alunos ou ambulantes, esperavam algo mais do Sete de Setembro? Que importa a ausência de participação cívica para um povo já tão sem valores cívicos?
O objetivo foi alcançado, e isso é tudo! Livre de vaias, e cumprido o dever formal de comparecer ao palanque, as autoridades civis agora podem descansar em paz neste resto de feriado, pois a manifestação das massas não as poderá alcançar mais!
Ilhéus? Tradição ? Civismo ? O que é isso ? Os responsáveis irresponsáveis já podem dormir tranquilos. A chuva passou. O Sete de setembro passou. E o povo de Ilhéus, mais uma vez, como em um jogo de dominó dominado pelo sadismo, também passou!
Julio Cezar de Oliveira Gomes / Advogado, graduado em Direito; e Professor, graduado em História, ambos pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz
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