Por Walmir Rosário
Na década de 1960 – ainda no século passado – a loja Grauçá Modas promovia uma interessante campanha publicitária em Ilhéus e Itabuna. Dizia a peça mais ou menos assim: “Baixamos as calças para você”. Essa campanha foi veiculada no rádio, serviços de som e peças impressas em cartazes e jornais. Foi uma das grandes sacadas de Antônio Badaró naquela época e que serve muito bem para ilustrar o Brasil de hoje.
Pois bem, com cerca de 50 anos após os brasileiros estão indo em direção contrária à promoção por demais criativa de Badaró para a loja Grauçá Modas vender mais, de forma soberana, vai às ruas para exigir: “Levanta as calças, Brasil”. É a maior manifestação pública cidadã realizada no Brasil depois de “Campanha das Diretas Já” e do “Fora Collor”, todas com a vontade de recolocar o Brasil nos trilhos. E sem vender a dignidade e a alma.
A maior lição que deveremos tirar dessas manifestações é que não queremos continuar com o atual modelo corrupto de governar, concedendo nossa autonomia à Fifa. Rasgamos a Constituição Cidadã, jogamos nossas leis na lata do lixo para que possamos participar de uma Copa do Mundo, restabelecendo o modelo ufanista para colocar o futebol, esporte maior de nossa mania em detrimento das nossas necessidades mais prementes.
O que o brasileiro mostra nas ruas é que o aumento no preço das passagens dos transportes público foi apenas o fio da meada de um sistema que opera nas trevas. Toda a transparência se limita apenas tão somente às altas esferas do poder públicos e aos donos das empresas. No meio, para referendar as ações, um conselho municipal de transporte (geralmente), que dá o aval necessário à política de aumento de preços.
Acredito que os protestos contra o aumento nos preços das passagens dos transportes urbanos das cidades e regiões metropolitanos tenha sido apenas um pano de fundo para o povo “botar o bloco nas ruas”. Numa estratégia de marketing, o povo foi instigado, compareceu e, aos poucos, o movimento foi ganhando proporções gigantescas. Sem os partidos políticos, é claro, pois estão metidos até o pescoço neste mar de corrupção.
O brasileiro quer o futebol como mania nacional, mas que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo sejam realizadas dentro das possibilidades do nosso bolso. Ora, se antigamente gritávamos palavras de ordem contra entregar nossa autonomia ao famigerado Fundo Monetário Nacional (FMI), cujos protestos eram alimentados com as frases de efeito ditas pelos ainda então partidos de esquerda: “Fora FMI”.
Hoje, os manifestantes brasileiros não querem e nem pregam o “Fora Fifa”, pois aceitam tranquilamente a realização desses dois eventos esportivos, desde que dentro dos padrões permitidos pelos nossos bolsos. O brasileiro está cansado de ser tratado com desdém quando precisa dos serviços de saúde, educação, moradia digna e com toda a infraestrutura necessária, e ainda ouvir que não existem recursos suficientes para tanto.
Mas, para a construção de suntuosos estádios não falta dinheiro público, tampouco a disposição das autoridades governamentais em conceder regalos aos amigos mais chegados, que podem fazer o mesmo caminho do bumerangue, voltando na época correta: as campanhas políticas. Fazem “mesuras com o chapéu alheio”, sem a menor cerimônia, ao “presentearem” concessões para a administração dessas arenas por anos a fio.
O que chama a atenção neste movimento que vem ganhando as ruas é a aversão aos partidos políticos, que são useiros e vezeiros em pegar carona nos movimentos populares, como se viu com alguns deles, prontamente rechaçados pelos participantes e lideranças. Esse, talvez, tenha sido o maior recado aos parlamentares e executivos deste país, acostumados a agir no público como se fosse no privado.
E a presidenta Dilma captou a mensagem. Tanto é assim que se apressou a elogiar a atitude, embora, de forma dissimulada, tenha feito pronunciamento como se a carapuça coubesse apenas aos outros governantes e parlamentares. Não, presidenta, foi o seu governo e de seu sucessor que assim agiram, arriando as calças para a Fifa e seus amigos concessionários das majestosas arenas, construindo sem licitação e com preços aviltantes.
Como perguntar não ofende, responda-me, presidenta: Vamos continuar de calças arriadas? Levanta as calças, Brasil!
Jornalista, advogado e editor do www.ciadanoticia.com.br
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