Ilhéus : Feira fecha bons negócios e agricultores familiares são reconhecidos pelo trabalho


Ivonete Brasil Santos, a escolhida

Ivonete Brasil Santos, a escolhida

Se por um lado um público estimado em 8 mil pessoas visitou a 5ª edição da Feira da Agricultura Familiar de Ilhéus e Festa do Milho, em Ilhéus, no último final de semana, para acompanhar, experimentar e conhecer de perto parte do que é produzido na zona rural de Ilhéus, por outro há muitas outras conquistas que podem ser comemoradas pela Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar do Sul da Bahia (Coofasulba), idealizadora do evento que, a cada ano, se consolida no calendário do agronegócio regional.

Um adicional de um milhão e meio de reais em recursos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foram disponibilizados apara os cooperados para aplicar no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA Estoque), iniciativa em que governo empresta recursos com juros de apenas três por cento ao ano para estimular a produção e verticalização da agricultura. Outra conquista junto a Conab foi a venda de mais 30 toneladas de achocolatados, produzidos pela Coofasulba, para compor a cesta básica dos baianos que vivem no semiárido e convivem com a seca.

Os anúncios foram feitos pela superintendente para os Estados da Bahia e Sergipe da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rose Edna Mata Vianna Pondé, que participou da abertura da feira. Para além de benefícios coletivos, a feira também apresentou perspectivas de novos negócios para quem achava que, ali, só estaria colocando os seus produtos na “vitrine” da cidade. Produtos como as frutas desidratadas produzidas e empacotadas à vácuo por um grupo de agricultores familiares de Vila Retiro, vão ser integrados a uma rede de comercialização da agricultura familiar. O produto, depois de exposto na Soares Lopes, ganhou repercussão nacional, com matérias sobre a iniciativa publicadas em sites como a Agência Sebrae de Notícias e Globo Rural Online.

Também outros produtos, a exemplo dos achocolatados e das misturas instantâneas nos sabores de milho e chocolate e o produtor Walter Borges, com seus doces empacotados em embalagens temáticas, como folhas do cacaueiro e fibras do tronco da bananeira, vão estar presentes, no período de 4 a 8 de julho, na Feira da Agricultura, que acontecerá na orla de Salvador.

Prestígio e reconhecimento – Um dos setores mais organizados da economia local, a agricultura familiar em Ilhéus conta, hoje, com mais de cinco mil agricultores, sendo que, deste total, 400 famílias estão diretamente ligadas à Coofasulba. As principais fontes de produção da zona rural do município são o cacau, bananas da prata e da terra e aipim que passaram a ser mais valorizados a partir da década de 90, quando os agricultores familiares resolveram se organizar, criando associações e implementando o Conselho Municipal Rural. “Hoje – destaca o presidente do conselho, Dero Farias – somos formados por 46 associações e respeitados pelo caminho que estamos construindo”. Para Dero Farias, uma cidade como Ilhéus, em que, no campo, habita uma população estimada em 60 mil pessoas, é preciso ter os olhos mais voltados para o interior.

São poucos, realmente. Mas já há quem tenha esse olhar. Esta semana, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), por exemplo, escolheu a Coofasulba como a maior “entidade organizadora da produção” no sul da Bahia. Mas o trabalho coletivo também promove destaques individuais. Ivonete Brasil Santos, a “Nete do Aipim”, de 34 anos, foi eleita a “Agricultora do Ano”. As escolhas são sugeridas pelos escritórios da Ceplac e chanceladas por uma comissão de técnicos da própria instituição.

A história de vida de Nete é um exemplo de superação. A Fazenda “Santa Rosa”  tem 9 hectares, toda a área produtiva. Ela, o esposo e um primo dele, produzem banana, cacau, frutas tropicais e hortaliças. Filha de pescador, Nete comprou a propriedade há 20 anos. “Era terra e mato apenas. Morávamos numa casinha de taipa”, lembra. A família foi para dentro da fazenda, trabalhou firme e hoje produz uma variedade de produtos agrícolas. Parte da produção ela vende à Coofasulba, que a utiliza para doações de alimentos entre entidades filantrópicas da região, a exemplo da Apae, Asilos e Creches. São 26 instituições beneficiadas. A outra parte ela põe na carroceria de uma caminhonete e negocia em restaurantes e na Central de Abastecimento do Malhado, a maior da cidade. Hoje a família vive do próprio suor no campo. Tem casa boa e carro próprio e parte para a ampliação dos negócios, com uma criação de Tilápias, em fase experimental.

“É uma honra ser vista como um exemplo vencedor. Isso me faz crer que valeu a pena todo o sacrifício. Meu sonho é me tornar uma grande agricultora, plantando, colhendo e vendendo”, afirma a produtora da região do Valão, um lugar onde só foi chegar escola e transporte público depois que os produtores se organizaram e mostraram a força do trabalho coletivo. “Agora até no mapa nos estamos”, sorri, brincando, a premiada agricultora.

A Coofasulba é um modelo muito bem sucedido no mercado cooperativista do interior baiano, atuando em várias vertentes da economia produtiva. O achocolatado da Coofasulba, por exemplo, é um dos itens da Cesta Básica que hoje atende às vítimas da seca na Bahia. Esse mesmo achocolatado, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), é vendido ao governo da Bahia para atender a merenda escolar na Região Metropolitana de Salvador e em 6 dos 26 municípios do Território Litoral Sul.

Para verticalizar a produção de achocolatados a cooperativa firmou parceria com a Ceplac, que cedeu um galpão para o funcionamento da unidade de beneficiamento. A cooperativa entrou com o maquinário e pessoal. São 15 trabalhadores contratados e uma produção de 30 toneladas por mês, que, nos próximos 90 dias, vai dobrar com a chegada de mais uma linha de produção, adquirida em parceria com o governo do estado. Para a produção de mistura instantânea nos sabores milho e chocolate, a cooperativa é parceira de uma unidade industrial de Ilhéus. E polpas de frutas são produzidas em três unidades simplificadas sob o comando dos pequenos produtores, associados à entidade.