Setor da construção civil deve injetar na economia de Ilhéus mais de 300 milhões


Setor emergente que movimenta toda a economia da cidade
Setor emergente que movimenta toda a economia da cidade

O setor da construção civil em Ilhéus deve movimentar, somente este ano, cerca de 300 milhões de reais na economia do município, o dobro do valor registrado em 2012. O anúncio foi debatido durante um encontro da categoria realizado esta semana para avaliar a força do setor na economia local. Nos últimos quatro anos, asseguram os empresários, foram gerados cerca de 6 mil empregos diretos e indiretos e negociados 4 mil imóveis, entre os que já foram entregues e os que estão em fase de construção. O setor vive um momento histórico e hoje mantém, em plena atividade, 15 construtoras. Segundo dados do Cadastro Geral dos Empregados (Caged), do Ministério do Trabalho, este é o segmento privado que mais emprega na cidade. E o melhor: o que menos demite.

Nesta sexta-feira (15), representantes de construtoras, engenheiros, arquitetos, comerciantes e prestadores de serviços, estiveram com o prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro, para pedir definições mais claras a respeito da política de ocupação do solo no município. “Este é um problema que preocupa a todos os setores da economia local e não apenas aos construtores”, assegura Vicenzo Morelli, diretor da Construtora Morelli. A construção civil movimenta diretamente os serviços de profissionais de níveis superior e médio, lojas de materiais de construção, eletricidade, hidráulica e acabamento, mercado imobiliário, dentre outros. Para os representantes da construção civil, a cidade tem que estar pronta, com políticas públicas bem definidas, para abrigar os investimentos que estão previstos para os próximos anos. E são muitos. “Enxergamos o governo municipal como parceiro e por isso estamos abertos ao diálogo, ao debate franco do que deve ser melhor para o desenvolvimento da cidade”, completou o empresário Roque Lemos, da Cicon.

Benefícios diretos – Roque Lemos lembra que além da iniciativa privada, o próprio governo municipal também termina beneficiado com as intervenções arquitetônicas promovidas na cidade. Como exemplo, ele revela que nos últimos dez anos, a construção de novos prédios no bairro da Cidade Nova, região central de Ilhéus, resultou na transformação de 14 imóveis – a maioria não estava sendo sequer habitada – em 319 apartamentos, cujos proprietários passaram a pagar IPTU, gerando mais renda ao município. “A realidade mudou sem que a Prefeitura tenha mexido em sua estrutura básica de serviço, já que não houve a necessidade de ampliação do sistema de iluminação pública, sistema de esgoto ou de água”, lembra.

A movimentação intensa provocada pelo setor também está contribuindo para o surgimento de novos cursos superiores no eixo Ilhéus-Itabuna e, por consequência, na qualificação profissional dos jovens da região. Na Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, já estão funcionando os cursos de Engenharia Civil, Mecânica e Elétrica. Na Unime, em Itabuna, está em pleno funcionamento, e com uma grande procura, o curso de Arquitetura. Alguns dos jovens que cursam a partir do terceiro semestre da faculdade já encontram-se empregados como estagiários nas construtoras e escritórios de engenharia e arquitetura.

Mudança de rumo – Filho de mestre de obra, Florisvaldo Tavares, seguiu a profissão do pai. “Tinha muitos parentes nesta profissão”, lembra com orgulho, mas sem se esquecer dos tempos difíceis, quando a crise na economia regional deixou milhares de desempregados no sul da Bahia. Agora, com a economia em alta, o caminho tomado por um dos filhos de Florisvaldo é outro. E é um passo a mais na formação profissional. “Em breve ele vai se formar em engenharia e vai realizar um sonho que não é só o dele, é meu também”, diz, emocionado.

Filho de nordestinos, Floriano Silva, nasceu em São Paulo. O pai, pedreiro de mão cheia, trabalhou durante anos na construção de prédios da maior metrópole da América Latina. Há 26 anos, Floriano resolveu vir para Ilhéus, terra do pai, e começar uma nova vida. No início não foi nada fácil. “Aparecia um emprego de vez em quando”. Há pouco mais de 10 anos é que as coisas começaram a mudar. O setor ganhou novo dinamismo e agora o trabalho “é todo dia”. Por conta do ritmo frenético da construção civil, Floriano já conquistou a casa própria, tem moto do ano e carro para “viagens a passeio com a patroa lá de casa”. Pedreiro e Ceramista com carteira assinada por uma construtora de porte médio, onde já ajudou na construção de oito novos prédios, Floriano garante: São Paulo agora só para passear. “Aqui é um lugar perfeito para se viver”.

A volta por cima – Tempos difíceis em São Paulo também foram vividos por Elias Vieira. Hoje aos 52 anos ele lembra quando pegou um ônibus no Terminal Rodoviário de Ilhéus e apostou todas as suas parcas economias para tentar uma nova vida numa grande cidade. O risco era grande. A necessidade, maior ainda. “Não posso dizer que passei fome por lá. Mas posso garantir que muitas vezes passei da hora de comer”, lembra.

Em São Paulo, o curso técnico de eletricista teve que ficar pela metade. Ou comia ou investia na profissão. A decisão de voltar trouxe consigo um misto de medo e esperança. Conseguiu um emprego para manusear a caldeira de uma indústria de beneficiamento de cacau e, com o salário, concluiu o curso de eletricista. “foi o pulo do gato”. Elias passou a prestar pequenos serviços de eletricidade até firmar uma parceria com uma pequena construtora. O primeiro trabalho “grande” foi na construção de um prédio de três andares. “Aí o dono me chamou e perguntou se eu tinha condições de trabalhar num prédio maior, de oito andares. E respondi a ele: de qualquer tamanho. Estou pronto”. Resultado: Elias não parou mais. Hoje além de atender a pequenas e grandes construtoras ele resolveu agregar valor ao seu serviço.

Em maio do ano passado, Elias juntou-se ao filho, também técnico em eletricidade e os dois abriram uma empresa com mais de mil itens em produtos de baixa e média tensão, na avenida Itabuna, região comercial importante de Ilhéus. O momento, eles definem, é de investimento. Elias e Rilsoney, de 28 anos, apostam na continuidade do crescimento do setor, alicerçado nos projetos de intervenção urbana que a cidade está na expectativa de receber, com a implantação do Complexo Intermodal Porto Sul. “Como em uma construção, estamos preparando a base para o novo momento que a cidade espera viver”, afirma um entusiasmado Elias.