A história do homem que um dia acreditou


O ano era 2004. Vivíamos o pleno fervor das emoções propiciadas pela então campanha para prefeito. O candidato favorito, que aliás se elegeu com uma grande margem de votos, era um conhecido e controvertido empresário local. O seu jingle, tocado à exaustão nos quatro cantos da cidade afirmava: “Esse homem tem história e tradição”.

No bairro do Malhado, mais precisamente nas proximidades da central de abastecimento, um cidadão que na época fazia o conhecido serviço de lotação, chamava a atenção com a sua lata velha completamente tomada por adesivos do candidato favorito.

Sem pestanejar ele afirmava em alto e bom som com sua voz rouca: “Se o homem ganhar me dará um alvará de taxista. Ele me garantiu. Eu vou mudar de vida, deixarei de trabalhar na clandestinidade”.

Os meses passaram, o “homem” sagrou-se vencedor, assumiu o Paranaguá e o cidadão da lotação insistia em manter os adesivos no seu carro. Como uma espécie de comprovação de que  de fato apoiou o então prefeito.

O tempo continuou passando e os adesivos que cobriam o carcomido veículo, desbotavam. O cidadão, já quase desacreditado da promessa feita a ele, seguia trabalhando. Era fácil perceber em seu semblante os ares de alguém que foi ludibriado.

Há alguns dias encontrei ele. Lá pelos lados do terminal. O seu veículo foi substituído por um carrinho de picolé, e a sua voz rouca ao invés de anunciar o itinerário da saudosa lotação, dessa vez propagandeava os sabores dos picolés a venda.

Um detalhe chamava a atenção: Não havia adesivo de nenhum candidato.

Pensei comigo: Taí um homem que não acredita mais em promessa de político.